sexta-feira, 2 de julho de 2021

Mensagens entre advogada presa e suposta conselheira de facção sugere suborno para acessar processos

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O Ministério Público Estadual (MPCE) ofertou na última segunda-feira, 28, denúncia contra a advogada Samya Brilhante Lima, presa no último dia 9 de junho suspeita de envolvimento com a facção criminosa Comando Vermelho (CV). Entre as acusações feitas a partir de investigação da Polícia Civil está o pagamento de propina a servidores públicos para acesso de processos em segredo de justiça. A defesa da advogada nega as acusações e elenca uma série de fragilidades na denúncia. A Justiça ainda avalia o recebimento da peça acusatória. 

 

Conforme consta na denúncia, os atos criminosos foram descobertos após análise das conversas mantidas por Almerinda Marla Barbosa, a "Ruiva, apontada como "conselheira" do CV. Em pelo menos três situações, diz o MPCE, as conversas entre Samya e Almerinda indicam a existência de crimes. Em uma delas, a advogada é questionada por Almerinda se poderia ter acesso a um processo que tramita sob segredo de justiça. Samya responde, em áudio por Whatsapp, que precisa receber dinheiro para isso, já que a senha necessária é “cara" e "sempre muda”. Almerinda, então, encaminha um número de processo, referente ao pedido de prisão temporária contra Cosmo Rosa da Silva, o "Gago da Aerolândia", também apontado como integrante do CV. A advogada diz que a senha que dispõe não dá acesso a esse tipo de processo.

 

“A minha senha que não é a minha, né? Que já uma senha que eu utilizo de uma pessoa que a gente paga por mês, né? Só abre segredo de justiça. O sigilo externo, ele não fica dentro do sistema, entendeu? Ele fica dentro do sistema do Juiz e do Promotor. É uma senha que só eles têm, então a pessoa tem que pedir ao juiz ou ao promotor para ter acesso e tem que ser o juiz o promotor daquele caso, não pode ser qualquer um (SIC)”.

 

A transcrição é reproduzida de forma literal como consta na denúncia. "Ele (o servidor supostamente corrupto) perguntou para quem eu ia advogar e qual era a situação, porque se fosse de organização criminosa ele não podia pedir acesso, mas se for em outra vara ele pede a senha maior dele, a senha maior do superior dele, aí ele pediu qual é a situação para ele bolar uma história e pegar, senão só com a procuração mesmo", diz Samya em outra ocasião.

 

O POVO contactou o Tribunal de Justiça do Estado (TJCE) para saber se o servidor foi identificado, mas foi informado que o órgão “não foi oficialmente comunicado sobre denúncia do MPCE nesse caso específico”. Entretanto, o TJCE afirmou sempre estar “à disposição para colaborar com os trabalhos de investigação”. A Polícia Civil não respondeu a O POVO se abriu inquérito para apurar a identidade do servidor mencionado.

 

Outras acusações

A segunda situação criminosa flagrada, na avaliação do MPCE, é uma conversa em que Almerinda pergunta quando Samya vai visitar, na condição de advogada, Adolfo dos Santos, o "Anjo", apontado como integrante do CV. Almerinda diz que precisa "mandar uma ideia nele" e diz que arcará com as despesas que a advogada venha a ter com a visita.

 

Já a terceira situação, Samya recebe uma peça jurídica de Almerinda, que perguntava sobre o que se tratava o documento. Ela informa que se trata de uma delação feita por um integrante do CV e repassa outros prints do processo judicial á Almerinda. "Pelo teor dos diálogos, restou claro que Samya se utiliza da condição de advogada para auxiliar 'Ruiva' a atingir objetivos dentro da organização criminosa Comando Vermelho, pertinentes ao tráfico de drogas", diz o MPCE. Samya foi acusado dos crimes de integrar e promover organização criminosa, corrupção ativa e divulgação de segredo. 

O Povo Online


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