O fabricante da vacina russa Sputnik V, contra a Covid-19, irá processar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por difamação, segundo anunciou o perfil oficial do imunizante no Twitter, nesta quinta-feira (29). A Anvisa ainda não se pronunciou.
“Após
a admissão do regulador brasileiro Anvisa de que não testou a vacina Sputnik V,
a Sputnik V está iniciando um processo judicial de difamação no Brasil contra a
Anvisa por espalhar informações falsas e imprecisas intencionalmente”, disse o
comunicado, também publicado em inglês.
A
Anvisa negou a autorização para importação da vacina por parte dos estados, na
última segunda-feira (26). Todos os diretores votaram contra a autorização,
seguindo pareceres das áreas técnicas e também o voto do relator Alex Campos.
Segundo
a agência, o principal ponto para a decisão é a falta de
documentaçõescomprobatórias da segurança da vacina e possibilidade de falhas na
fabricação do produtor, o Instituto Gamaleya.
Outro
aspecto apresentado pelo gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da
Anvisa, Gustavo Mendes, é a presença de “adenovírus replicante” na vacina
russa. De acordo com ele, na etapa de cultivo do vírus, durante a replicação
nas células especiais, podem ocorrer eventos de recombinação.
Segundo
o perfil da Sputnik V, a decisão de entrar com ação judicial ocorreu após
Gustavo Mendes declarar, em uma notícia da revista Abril, que a “Anvisa não
testou a presença de replicantes virais na vacina Sputnik”.
“Anvisa
fez declarações incorretas e enganosas sem ter testado a vacina Sputnik V real.
E desconsiderando ofício de Gamaleya Inst. que nenhum RCA está presente, e
apenas vetores não replicantes são usados com E1 deletado. Nossa equipe
jurídica entrará em contato”, disse a publicação.
Segundo
a Anvisa, a decisão de segunda-feira se baseou nos dados e documentos
fornecidos pelo instituto russo. “Esse adenovírus replicante foi detectado em
todos os lotes apresentados da vacina Sputnik para a Anvisa. Todos os laudos de
controle de qualidade que foram apresentados na documentação [a] que nós
tivemos acessso, mostravam a presença desse vírus replicante”, afirmou o
gerente-geral.
O
Instituto Gamaleya, no entanto, afirmou à Abril que enviou documentos que dizem
o contrário. “Os controles de qualidade existentes garantem que nenhum RCA
possa existir na vacina Sputnik V. Antes da inspeção a equipe da Anvisa recebeu
ofício do centro Gamaleya datado de 26 de março de 2021 que diz claramente:
‘Além disso, gostaríamos de informar que durante a liberação da vacina no local
do Centro e no local do contrato do JBC Generium, nem um único lote contendo
RCA foi registrado.'”
Decisão
da Anvisa
A
Anvisa negou pedidos de importação realizados pelos estados do Ceará, Acre,
Alagoas, Amapá, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio
Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Tocantins, além dos municípios de Maricá e
Niterói. Com isso, o Ceará não poderá, neste momento, concluir a compra direta
de 5,87 milhões de doses do imunizante.
A
decisão ocorreu em reunião nesta segunda-feira (26), a poucos dias do fim do
prazo estipulado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e terminou por volta das
23h.
“Não
há parecer ou documento compatível com documento técnico de análise descritivo
por autoridades que concederam o registro definitivo da vacina”, defendeu o
presidente do órgão, Antonio Barra Torres. Conforme ele, diversas tentativas
foram feitas no sentido de conseguir estes documentos junto às autoridades
russas.
Horas
após a recusa da Anvisa, os fabricantes da Sputnik V, criticaram a decisão do
governo brasileiro de não autorizar aimportação do fármaco. “Os atrasos da
Anvisa na aprovação da Sputnik V são, infelizmente, de natureza política e não
têm nada a ver com acesso à informação ou ciência”, afirmou a conta no Twitter
da vacina russa.
A
vacina Sputnik V está sendo aplicada em países, como Rússia, Argentina, México
e Venezuela. Segundo o Instituto Gamaleya, que desenvolveu o imunizante, o
fármaco foi autorizado em mais de 60 países. “Seguiremos adiante com nossos
contatos. Se falta informação, será fornecida. Não deveria existir nenhuma
dúvida a respeito”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Fonte: Diário do Nordeste