segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Pesquisadores conseguem conversar com quem está sonhando

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O conceito de sonho lúcido (aquele em que temos consciência de que estamos sonhando) sempre deu bons roteiros de filmes (vide Inception); porém, é também um ramo da ciência que, cada vez mais, tenta entender como nosso cérebro se comporta quando a inconsciência chega à noite. Se os pesquisadores do Dream Lab, do Massachusetts Institute of Technology (MIT) usam tecnologia para hackear sonhos, cientistas de quatro universidades pelo mundo estão conversando com pessoas enquanto elas dormem.

 

“Descobrimos que os indivíduos em sono REM podem interagir com um pesquisador e se comunicar em tempo real e que aqueles que sonham são capazes de compreender perguntas, engajar-se em operações da memória de trabalho e produzir respostas. A maioria das pessoas pensaria que isso não é possível – que as pessoas acordariam quando uma pergunta fosse feita”, disse em comunicado um dos autores do estudo, o psicólogo Ken Paller, diretor do Programa de Neurociência Cognitiva na Universidade Northwestern.

(REM significa Rapid Eye Movement, ou movimento rápido dos olhos, fase do sono indicado pelo movimento dos olhos na qual a atividade cerebral é tão intensa quanto aquela durante o estado consciente. É nessa fase que os sonhos lúcidos ocorrem.)

Sinais combinados

Para realizar o experimento, os participantes foram treinados a reconhecer os sinais de que estavam dentro de um sonho lúcido e como os pesquisadores entrariam em contato – através de sons, luzes ou mesmo toques físicos (cada laboratório usou maneiras diferentes de se comunicar com os voluntários adormecidos).

Os cochilos aconteciam em diferentes horas do dia, com os pacientes adormecendo conectados a monitores de atividade cerebral, através de sensores para captar a contração dos músculos do rosto.

 

No total, foram realizadas 57 sessões com 36 indivíduos; seis indicaram aos pesquisadores estarem tendo sonhos lúcidos 15 vezes, quando foram testados com perguntas e questões matemáticas simples (algo como oito menos seis). Os voluntários respondiam através dos sinais anteriormente combinados, como sorrir, franzir a testa ou mover os olhos.

De um total de 158 perguntas, os pesquisadores obtiveram dos voluntários adormecidos respostas corretas em 18,6% das vezes e erradas para 3,2% das perguntas. Não houve clareza em 17,7% das respostas; 60,8% das questões não obtiveram resposta.

Narrador de filme

Depois de acordados, os voluntários descreviam o que haviam sonhado: alguns lembravam terem sido chamados; um dos participantes ouviu, pelo rádio do carro onde sonhou estar, a voz de um dos pesquisadores pedindo a ele que resolvesse um problema de matemática, enquanto outro, numa festa de amigos, escutou o pesquisador, como o narrador de um filme, perguntar se ele falava espanhol.

Os experimentos foram conduzidos independentemente pela equipe da Northwestern (EUA), e as das universidades Sorbonne (França), Osnabrück (Alemanha) e Radboud (Holanda).

 

“Reunimos os estudos porque sentimos que a combinação dos resultados de quatro laboratórios usando abordagens diferentes atesta de forma mais convincente a realidade desse fenômeno de comunicação bidirecional”, disse a psicóloga e principal autora do estudo, Karen Konkoly. “Desta forma, vemos que diferentes meios podem ser usados para comunicação.”

O experimento rendeu, além dos resultados, dois frutos. O grupo de Paller desenvolveu o aplicativo Lucid para smartphone que ensina as pessoas a terem sonhos lúcidos (você pode baixa-lo aqui). Além disso, a rede de televisão OBS (voltada à educação) produziu o documentário Dream Hackers: Bridge to Your Hidden Brain, mostrando um experimento de sonho lúcido.

 

“É uma prova de conceito. Os números mostraram que a comunicação é real. E o fato de os laboratórios envolvidos terem usado maneiras diferentes para provar que é possível ter esse tipo de comunicação bidirecional torna os resultados mais robustos. Este trabalho desafia as definições básicas de sono”, disse à Science Magazine o neurocientista cognitivo Benjamin Baird, da Universidade de Wisconsin (ele não fez parte do estudo).

TecMundo


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