A
morte de Idelfonso Maia Cunha, o "Mainha", pistoleiro famoso no Ceará
e no Brasil na década de 1980, completou 10 anos neste mês e segue sem condenação
dos criminosos. Ele cobrava valores para matar pessoas, sendo apontado como
responsável por dezenas de homicídios, incluindo prefeitos de cidades
cearenses.
Mainha
foi assassinado a tiros por dois homens, no Bairro Novo Maranguape, em
Maranguape, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), em 4 de janeiro de 2011.
Segundo
o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), a denúncia do caso sequer foi recebida,
motivo pelo qual ainda não foi gerado um processo criminal.
Procurado
desde a sexta-feira (8), o Ministério Público do Ceará (MPCE) alegou que os
promotores de Justiça da Vara de Maranguape não localizaram o inquérito e, por
isso, não podiam fornecer informações.
A
Polícia Civil informou, em nota, que o inquérito do caso "foi concluído e
enviado ao Poder Judiciário no ano de 2013”. Questionada se algum suspeito foi
indiciado, a instituição não respondeu.
O
sociólogo do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal
do Ceará (UFC) e escritor do livro “Crimes por Encomenda”, César Barreira,
afirma que não fica surpreso por a morte de Mainha não ter sido solucionada.
“Continuamos
com a máxima de que ‘bandido bom é bandido morto’. Primeiro, que a elucidação
desses crimes é muito baixa no Brasil. Segundo, esses crimes são elucidados
quando têm uma forte participação da família. Não deve ter havido.”
Crime
Idelfonso
Maia cavalgava desarmado em um burro quando foi surpreendido pelos assassinos,
que chegaram em um automóvel de cor preta, próximo a um matagal, por volta das
12h.
O
perito criminal que atendeu a ocorrência detalhou que o corpo de Mainha tinha
nove perfurações, sendo uma na cabeça e o restante no braço direito, no peito e
no abdômen. O burro foi atingido por três tiros.
Os
levantamentos iniciais da Polícia Civil apontavam para um crime encomendado.
Diversos inimigos de Mainha teriam se reunido em um "consórcio" para
pagar um "matador de aluguel".
"Essas
pessoas que fazem essa opção de trabalhar como 'matadores de aluguel' carregam
ao longo da sua vida muitos inimigos. Ele sofreu vários atentados, ligados a
fatos que ele executou, mas também aos mandantes dele. Ele era um "arquivo
vivo", tinha muitas informações", afirma César Barreira.
Um
dos suspeitos de cometer o homicídio chegou a ser preso em um shopping em
Mossoró, no Rio Grande do Norte, em junho de 2014. Outro suspeito prestou
depoimento à Polícia Civil em 2013, mas negou a autoria. Este foi assassinado
meses depois, em um parque de vaquejada de Tabuleiro do Norte.
Mortes
Mainha
é apontado como autor de dezenas de homicídios. O primeiro caso conhecido e
atribuído a ele é o assassinato do então prefeito de Alto Santo, Expedito Leite,
crime ocorrido em Fortaleza, em 1977.
Outro
assassinato de um prefeito também teria sido cometido por Mainha. O ex-gestor
do Município de Pereiro, João Terceiro de Sousa, foi morto em uma chacina,
junto da esposa Raimunda Nilda, do soldado da Polícia Militar João Odeon e do
motorista Francisco Maurício de Souza, em Alto Santo, na BR-116, em abril de
1983.
O
pistoleiro foi preso apenas em 1988, no Município de Quiterianópolis, após
várias tentativas da Polícia Civil. Ele foi condenado a mais de 80 anos de
prisão, mas ficou preso por apenas 11 anos.
'Justiceiro'
César
Barreira conta que Mainha era "um personagem muito interessante no mundo
do crime, porque era uma pessoa acima da média em termo de entendimento dos
problemas sociais".
"Primeiro,
ele não se colocava como pistoleiro ou 'matador de aluguel'. Ele se colocava
como vingador, como justiceiro. Ele trabalhava como se tivesse uma necessidade
de uma 'assepsia social', que a Justiça não fazia. Ele falava que os crimes
dele tinham sido feitos no interior do campo da honra", relata.
"Uma
pessoa que chamou ele de 'ladrão de cavalo', ele matou. Outra pessoa que tentou
estuprar a irmã dele, ele matou. Uma pessoa que tentou matar o pai dele, ele
também matou. Pistoleiros que tinham sido contratados para matá-lo, ele se
defendeu e matou. Era uma pessoa educada, calma, até fria. Mas ele sempre negou
o fato de ser pistoleiro, dizia que não matava por dinheiro", completa o
sociólogo.
G1 -CE