A
produção da vacina contra a Covid-19 motiva, hoje, a principal corrida da
ciência. O Ministério da Saúde informou que acompanha mais de 200 imunizantes
de todo o mundo em alguma fase de desenvolvimento. Para o Ceará, importa uma,
que ainda não tem data oficial para chegar aos postos de saúde. No entanto, o
secretário da Saúde, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, Dr. Cabeto,
projeta que a vacinação contra a doença deve começar até julho de 2021.
O
composto em questão será produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mas é
desenvolvido pela Universidade de Oxford e pela empresa AstraZeneca, no Reino
Unido. Em setembro deste ano, a Fundação assinou um contrato de Encomenda
Tecnológica (Etec) para prepará-lo nacionalmente. Hoje, o material passa pela
fase III de ensaios clínicos, com testes em humanos.
"O
Estado do Ceará está ligado às ações da Fiocruz. A nossa vacina, que está com a
Fiocruz, tem previsão pro ano que vem. Quer dizer, a vacinação em massa seria
até julho do ano que vem", afirma o secretário.
Pelo
cronograma do Ministério da Saúde, a perspectiva é iniciar a fabricação
industrial de 100 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca-Fiocruz em
janeiro de 2021, com aceleração em abril, a partir da produção própria do
ingrediente fármaco ativo (IFA). Outros 110 milhões de doses devem ser
fabricadas no segundo semestre. A Pasta divulgou que não há definição de quem
vai receber a dose primeiro ou de como será a distribuição por estados.
Dr.
Cabeto, contudo, não descarta outras opções de imunização. "O Estado de
São Paulo tem uma parceria entre o Butantan e um laboratório chinês que está
falando que começa a produção em dezembro. Está sendo discutido em âmbito do
Ministério se nós podemos nos antecipar e usar essa vacina também".
Em
São Paulo, a chamada "Coronavac" está sendo desenvolvida pelo
laboratório Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan. O governo paulista
planeja aplicar os primeiros 46 milhões de doses a partir de dezembro,
começando o processo por profissionais da saúde. Anunciou ainda que deve se
reunir com o Ministério, nesta semana, para discutir a inclusão da vacina no
calendário nacional de imunizações.
No
entanto, depois, o mesmo Governo de São Paulo adotou cautela e preferiu não
confirmar, por enquanto, a vacinação para dezembro, justificando que a vacina
se mostrou segura nos testes, mas ainda é necessário comprovar sua eficácia.
Cenário
ideal
Segundo
Cabeto, o ideal é que a vacina chegasse antes da quadra chuvosa, entre os meses
de fevereiro e maio, quando "tradicionalmente aumentam as infecções
virais" no Ceará. No entanto, reconhece que não há "garantia nem
perspectiva de vacinação em massa antes dessa estação".
Para
o epidemiologista Luciano Pamplona, professor do Departamento de Saúde
Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC), a previsão do secretário é
"otimista". Ele próprio não acredita que haja uma vacina segura e
disponível à população antes do fim de 2021. Qualquer resultado antes disso
seria "precipitado", indica.
"Temos
uma pressão internacional gigante de governos e das pessoas. A vacina está
sendo antecipada, mas precisaria testar em populações maiores. Além disso, ela
não foi testada nem em idosos nem em crianças. Sendo autorizada, para a Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberar, tem outra distância",
destaca.
Pamplona
acredita que a aplicação priorizada em profissionais da saúde funciona como uma
"fase de testes ampliada" porque eles têm mais acesso ao sistema de
saúde e podem ser monitorados com mais eficiência. "Isso cogitando que a
vacina vai funcionar. Tem muita promessa", observa o epidemiologista.
"Meu receio é porque tem parte da população que parou tudo esperando por
ela".
Essa
espera é um dos fatores que contribuem para a pressão exercida sobre os
pesquisadores, como enfatiza a infectologista Roberta Luiz, do Hospital
Universitário Walter Cantídio (HUWC). "O processo de descoberta de uma
nova vacina dura, em média, oito anos. Só que os pesquisadores estão
trabalhando contra o tempo", pondera.
Por
outro lado, segundo ela, a dinâmica do vírus é mutável e não pode ser
apressada, uma vez que só o tempo permitirá certas descobertas. "Pode até
ser que a vacina saia em menos de um ano, mas não poderemos culpar a ciência
por uma imunidade 'temporária' da vacina. Há limitações", afirma a médica.