O
número de idosos abrigados em Instituições de Longa Permanência que
contaminados pela Covid-19 no Ceará chegou a 671, acumulados desde o
início da pandemia do novo coronavírus. Este número representa
40.8% do total de idosos de vivem nessas instituições em todo o estado (1.644),
conforme o Ministério Público do Ceará (MPCE). O órgão destaca ainda que 68
idosos morreram com a doença.
No
Ceará, a Covid-19 já acumula 258.742 diagnósticos positivos e já vitimou
9.129 pessoas. Destas vítimas, 7.152 estavam acima dos 60 anos de
idade. A taxa de letalidade da doença no estado é de 3,53%.
Até
o dia dois de outubro, 59 das 60 abrigos do Ceará forneceram dados referentes à
situação dos abrigos em relação a pandemia, registrando 28 casos suspeitos da
Covid-19 e 98 confirmados.
“A
gente teve aqui no Ceará uma incidência muito importante, muito elevada. Então
os números foram, para a quantidade de recursos e de protocolos, menores do que
a gente esperava”, declara o promotor de Justiça Hugo Porto, que coordena a
área do idoso do Grupo Especial de Combate à Pandemia do Novo Coronavírus do
MPCE.
Segundo
o promotor a “taxa abaixo do esperado” é o resultado de uma parceria entre
Estado do Ceará, Conselho Regional da Pessoa Idoso, as secretarias de saúde
municipais e estadual.
“Isso
criou uma rede de apoio onde os protocolos foram cumpridos, desde o começo
foram solicitados a produção de planos de contingência, com protocolos bem
definidos vindos do poder público e também da sociedade civil e do próprio
voluntariado. Então criou-se uma grande rede de apoio. A gente sabe que ninguém
faz nada só, e a gente precisa dessa ação articulada”, aponta.
Impacto nos
abrigos
A
Casa de Amparo ao Idoso Lar Três Irmãs, localizada no Montese, em Fortaleza,
iniciou as restrições, para tentar conter a disseminação do novo coronavírus,
antes mesmo do decreto estadual, mas mesmo assim registrou perdas.
“A
Covid-19 veio de supetão para todo mundo, e para gente, de uma forma mais
intensa por sermos o grupo de risco. Todos os nossos idosos corriam risco,
estavam expostos. Quando começou a pandemia, a gente já teve a precaução de
cancelar as visitas, o decreto veio para fortalecer isso, mas infelizmente nós
não tivemos como fugir do vírus”, conta Thaynara Almeida, coordenadora da
instituição.
O
lar que abrigava 32 idosos no início da pandemia, registrou, nos últimos sete
meses, 23 contaminados, quatro óbitos e cinco idosos que não tiveram contato
com o vírus. Apesar do grande número de recuperados, a coordenadora destaca que
a doença deixou o seu rastro.
“O
nosso auge foi em maio e percebemos que alguns dos infectados ainda não se
recuperaram 100% do quadro. Não possuem mais o vírus no corpo, mas aqueles que
possuem demência, a gente percebeu um avanço na demência, uma maior
debilitação, uma maior necessidade de ajuda. Alguns pós Covid-19 tiveram
pneumonia, uma gripe um pouco mais forte, [isso] por conta da fragilidade dos
pulmões”, destaca a coordenadora.
Por
mais que os números gerais da Covid-19 estejam em desaceleração constante em
Fortaleza e a instituição esteja a três meses sem registrar casos de
contaminação, o lar continua seguindo os protocolos de segurança sanitária
rígidos.
Em
Fortaleza, há 20 instituições ativas contemplando 666 idosos internos. Até o
dia dois de outubro, a Capital registrou 265 recuperados e total de 36 óbitos
confirmados por Covid-19, outros 23 são suspeitos. Em dados atualizados da
última semana, todas as instituições responderam e registram somente um caso
suspeito e 27 confirmados.
Lembrança
A professora Tacivanda Sampaio, 55, ainda lida com a saudade
após perder Iete Sales, 85 anos. A tia de seu esposo, Kleber, 56, sempre foi uma
mulher vaidosa e sorridente. Era baixinha, levemente encurvada por conta de um
problema de coluna, mas quase sempre estava com um sorriso no rosto. “Todo dia
ajeitava o cabelo, só vivia arrumada. Podia ser na hora que fosse, fazendo
faxina. Jurava que ia para algum lugar”, recorda.
Após
colocá-la em um lar para idosos em Caucaia, familiares combinaram de estar
presentes apesar dessa distância. No entanto, as visitas semanais foram
suspensas com a pandemia da Covid-19. “Foi tudo muito rápido”, comenta Tacivanda.
A alegre senhora morreu em maio e, para evitar o contágio da doença, os
familiares não tiveram como se despedir.
“A
maior perda foi saber que a gente não viu. Pegou o corpo confiando na palavra
do hospital. Foi tudo em questão de uma hora e o sepultamento”, relembra. Na
época, sentiu uma sensação “esquisita” por isso, a sensação da falta do adeus.
Apesar
da despedida em outros moldes, Tacivanda tenta se focar em todas as coisas boas
e vivências compartilhadas por mais de 32 anos. “A gente sente muita falta,
sempre está compartilhando foto, sempre está falando dela. A perda em si é meio
complicada, mas a gente mantém a lembrança”.
G1 CEARÁ