Em
meio a um contexto de escalada dos preços de alimentos e de material de
construção, os consumidores cearenses ainda deverão ter que pagar mais caro
por produtos têxteis a
partir de dezembro, prevê o Sindicato
das Indústrias de Confecção de Roupas do Ceará (Sindconfecções). A
estimativa é que as roupas apresentem uma elevação
de até 35% nos próximos meses.
A
interrupção das importações de insumos da China, seguida da forte demanda por
produtos têxteis com a retomada da economia, provocaram um desabastecimento das
indústrias, fator que deve afetar o preço a partir de dezembro. De acordo com o
presidente da Sindconfecções, Elano Guilherme, o aumento dos valores deve se
estender até o primeiro trimestre de 2021.
“Retomar
essa importação dos fios leva no mínimo 45 dias. Aí chega na fábrica, tem o
processo produtivo do tecido. Isso aconteceu que as indústrias estavam
desabastecidas, boa parte dela, de matéria-prima e quando foi ao mercado buscar
esses insumos, os revendedores estavam sem nada no estoque ou com o estoque
muito baixo”, esclarece.
Dentre
os produtos que já estão em falta no mercado, estão algodão, tricoline, malha, microfibra, lycra, lingerie e bojo.
Elano explica que essa carência afeta toda a cadeia produtiva, desde a calça
jeans à moda praia.
Particularidades
A
situação do setor é diferente do que está sendo registrado nos alimentos,
principalmente no arroz, segundo Wilton Daher, vice-presidente do
Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef/CE).
“Com
o preço do arroz, a situação é um pouco diferente, já que envolve também a
relação com a China, que tem uma demanda altíssima, não sendo pressionado só
pelo preço do dólar”.
Daher
explica que o preço do dólar está pressionando principalmente os produtos que
dependem de insumos importados para retornar às atividades. A retomada
econômica e a flexibilização das medidas de isolamento social estão fazendo com
que as pessoas voltem a consumir artigos que tiveram estagnação durante a
pandemia.
Por
isso, ele alerta que deve haver cuidado para que este aumento no consumo não
ocasione uma pressão grande demais na inflação. “Agora, é observar o mercado e
ter boa administração, tem que ser do governo, das empresas e das pessoas. É
preciso administrar o consumo para não desregular tanto a inflação e aumentar
ainda mais o problema”, aponta o economista.
Caso
o preço do dólar interfira na inflação, fazendo com que o índice fuja da meta
estabelecida pelo Governo Federal, pode ser necessário que o Banco Central
estabeleça medidas de contenção, avalia o vice-presidente do Ibef.
“O
Brasil tem uma reserva cambial muito forte, de mais de US$ 300 bilhões, o que é
importante para que, se houver uma pressão muito grande, o Banco Central possa
lançar dólares no mercado, como já fez”
Apesar
de haver a possibilidade de utilizar políticas monetárias para tentar conter o
preço da moeda, é importante pesar as consequências desta alta, como explica
Daher.
“Se
a inflação subir, quem sofre mais é o pobre, que precisa controlar cada centavo
que sai. Os ricos e a classe média continuarão consumindo mesmo se o preço
subir, é pensar coletivamente”.
Consumo
Apesar
da estimativa de encarecimento, o presidente da Sindconfecções afirma que o
consumo não deve diminuir. “O mais importante não é só o aumento porque ainda
vai ter algumas pessoas que vão conseguir adquirir. A nossa preocupação é com a
falta do produto que a pessoa mesmo tendo condição de comprar, não tenha o
produto que ela deseja”, avalia.
As
grandes e pequenas confecções devem sentir a elevação dos preços de forma
semelhante, aponta Elano. Segundo ele, a falta dos insumos está afetando todos
os setores, independente do tamanho da indústria. “A pessoa que tem uma
indústria um pouco maior, ela tem um planejamento de compra um pouco mais
elaborado, com mais programação, mas no final das contas todo mundo sente”,
complementa.
G1 CEARÁ