As
roupas, cuja produção normalmente chegava a mil peças por semana, são
costuradas, cuidadosamente, por partes. Cada uma delas é finalizada em dois
dias. Mas a atenção maior agora também se dá não apenas no acabamento, mas
também na higiene dos processos feitos pelas costureiras e demais funcionários
em atividade.
Agora,
eles não compartilham mais as máquinas e lavam as mãos assim que chegam ao
local de trabalho. A máscara, que ajudou a fábrica a não parar no momento mais
crítico, não gera nenhum desconforto. Ao contrário, ganhou tanta intimidade com
os funcionários, que virou item mais que obrigatório.
Rotina
As
oito costureiras já chegavam em horários alternados, a partir das 7h, o que
contribui para evitar a aproximação, apesar do espaço não permitir tanto
distanciamento entre cada posto.
"Eu
nem me incomodo mais com o uso da máscara, a gente já se acostumou. É tanto que
eu vou para casa e já coloco logo de molho", diz Clemilda. As
recomendações de higiene e cuidado partiram, sobretudo, de uma das marcas para
as quais elas costuram as peças de roupas e, agora, as máscaras.
"Eles
exigem que a gente tenha cuidado e higiene, até porque nós estamos na
fabricação de máscaras. Graças a Deus, até agora, ninguém adoeceu, mas se tiver
alguém querendo gripar, com dor de cabeça ou algum outro sintoma, a gente já
manda pra casa", detalha.
Novas demandas
Ontem
(1º) foi o dia em que teve início a fase de transição do Plano Responsável de
Abertura das Atividades Econômicas e Comportamentais no Ceará, mas o trabalho
não parou para a costureira Natália Melo, Ela já trabalhava com encomendadas de
uma outra loja cujas vendas online continuaram aquecidas apesar da pandemia,
atendendo assim a uma demanda reprimida.
Enquanto
isso, o restante da equipe focava na costura das máscaras - item que virou
necessidade básica e um novo nicho do mercado para o setor de confecções no
Ceará.
Expectativa
A
expectativa maior da Natália, da Clemilda e das outras costureiras é em relação
ao próximo dia 8 de junho: com a abertura do varejo do setor e a provável
redução dos estoques, a demanda deve aumentar e "a roda voltará a
girar", na avaliação de Clemilda.
Preparando-se
para o momento, ainda nesta semana, mais costureiras ficarão com as peças de
moda feminina. "Esses vestidos aqui, olha, faltam só o zíper", mostra
Clemilda. "A gente já vai deixar pronto, porque esses dias não vão mandar
mais tecido cortado para as máscaras, aí a gente volta para a moda
feminina", afirma, sobre os planos de retomada do negócio.
A
ideia, de acordo com ela, é ir gradualmente passando da costura de máscaras
para a moda feminina, retomando a operação de antes da pandemia. "A gente
ainda vai fazer máscaras, que se tornou um item obrigatório e as pessoas
continuam precisando. Ainda vai ter essa demanda, mas aos poucos a gente volta
para a moda feminina", pontua.
Ano perdido
Apesar
de certa esperança, ela avalia que este é um ano perdido em termos de
faturamento. "Já até conversei com as meninas que vai ser um ano sem
lucro. Vai ser só para a gente se manter", lamenta.
Enquanto
costurava as máscaras, Iolanda Viana disse que vê a normalização gradual das
atividades com bons olhos. "A gente ficou um tempo em casa. Costurar as
máscaras foi ótimo, porque a gente tem contas para pagar, mas ainda bem que as
coisas estão começando a voltar ao normal".
Ajuda extra
Trabalhando
menos no seu emprego principal por conta da pandemia, Erivelton Gomes também
ocupa uma das mesas. Enquanto a esposa costura próximo a ele, Erivelton dobra e
embala as máscaras a serem entregues ao cliente. Não deixa de tomar o mesmo
cuidado que as outras funcionárias tomam na higienização antes de começar o
ofício novo. Para ele, o processo de dobrar e embalar o tecido chega a ser
terapêutico.
"Eu
trabalho como prestador de contas, dia sim, dia não. Aí a gente está revezando
e eu venho ajudar a minha esposa. É um dinheiro que já ajuda a pagar as
contas", diz Erivelton. E ele não é o único. Clemilda relata que
"cada costureira tem o seu ajudante". Ao longo da semana, as
costureiras têm levado os maridos para ajudar no trabalho e otimizar o processo
de fabricação.
Orientação
Seja
para pequena ou para a grande empresa de moda, Elano Guilherme, presidente do
SindConfecções, que representa o setor, informou que repassou os protocolos de
saúde que orientam a operação no setor e ainda está elaborando uma cartilha
para distribuir entre os associados.
Com
pedidos encomendados pelas lojas de roupas, pequena facção de roupa planeja
aproveitar a liberação para volta ao trabalho para recompor as perdas
acumuladas nos dias em que ficaram sem funcionar
Diário do Nordeste