Segundo
país com o maior número de óbitos registrados em 24 horas, atrás apenas dos
EUA, o Brasil corre o risco de ficar de fora da lista das nações a terem
prioridade na distribuição de uma futura vacina contra a Covid-19. O Governo
Bolsonaro, que hostilizou as recomendações da Organização Mundial de Saúde
(OMS) quanto à importância do isolamento social no combate à pandemia, foi
excluído de uma iniciativa internacional que busca acelerar a produção de
vacina, tratamentos e testes contra a pandemia e assegurar um acesso
equitativo.
Denominada
"Colaboração Global para Acelerar o Desenvolvimento, Produção e Acesso
Equitativo a Diagnósticos, Tratamento e Vacina contra a Covid-19", a
iniciativa, lançada no fim de abril, reúne diversos países como França e
Alemanha, organizações internacionais, fundações e empresas privadas.
Participar dessa ação global significa ter prioridade para receber a vacina e
influenciar na questão de preços e de condições de acesso às futuras
descobertas.
Ontem
(18), o mundo comemorou o anúncio feita pelo laboratório farmacêutico
norte-americano Moderna, que informou ter tido "dados positivos" em
testes iniciais de uma vacina. Segundo a empresa americana, a primeira vacina
contra o novo coronavírus testada em pessoas parece ser segura e capaz de
estimular uma resposta imunológica contra o vírus. Os resultados são baseados
na reação das oito primeiras pessoas que receberam, cada uma, duas doses da
vacina, a partir de março.
Essas
pessoas, voluntários saudáveis, produziram anticorpos que foram testados em
células humanas no laboratório e foram capazes de impedir a replicação do
vírus. Esse é o principal requisito para uma vacina eficaz. Os níveis dos
chamados anticorpos neutralizantes correspondiam aos encontrados em pacientes
que se recuperaram após contrair o vírus na comunidade.
O
resultado envolve um número pequeno de pacientes. A empresa anunciou que deve
realizar novos testes em julho que podem envolver 600 pessoas. A Food and Drug
Administration (FDA), órgão equivalente à Anvisa no Brasil, já autorizou a
segunda fase dos testes. Caso os testes da segunda fase sejam bem-sucedidos,
Tal Zaks, diretor médico da Moderna, afirma que uma vacina poderá ficar
disponível para uso generalizado até o fim deste ano ou no início de 2021.
"Estamos fazendo o possível para chegar logo ao maior número possível de
doses".
O
estudo clínico é realizado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, onde o
Governo investiu US$ 500 milhões para essa potencial vacina. O presidente dos
EUA, Donald Trump, afirmou que aguarda a descoberta de uma vacina até o fim do
ano.
Ministério
Com
a falta de comando no Ministério da Saúde, que sofreu duas quedas de titular em
menos de um mês, a participação do Brasil em iniciativas internacionais que
buscam a cura da Covid-19 ainda é incerta.
Ontem
(18), em pronunciamento online na Assembleia Mundial da Saúde da OMS
(Organização Mundial da Saúde), o ministro interino da Saúde brasileiro,
general Eduardo Pazuello, disse que "gostaria de reforçar o compromisso do
Brasil em apoiar e participar de iniciativas internacionais", mas não deu
detalhes.
Ele
citou o estudo Solidarity, que compara tratamentos em vários países e que,
segundo Pazuello, "reforça a cooperação internacional e procura garantir o
acesso universal a diagnóstico, tratamento e vacinas, permitindo que salvemos
vidas e voltemos em segurança ao normal, sem deixar ninguém para trás".
A
relação do Brasil com a OMS piorou bastante durante a pandemia. Para se ter
ideia, no último dia 30 de abril, Bolsonaro acusou a OMS de incentivar a masturbação
e a homossexualidade de crianças. Bolsonaro voltou atrás e apagou o post
publicado em seu perfil no Facebook minutos depois.
No
texto, o presidente questionava as recomendações da OMS sobre a Covid-19 e
indagava: "Deveríamos então seguir também diretrizes para políticas
educacionais?" Sem citar fontes, Bolsonaro então detalhava supostas
recomendações da OMS para crianças de 0 a 4 anos: "Satisfação e prazer ao
tocar o próprio corpo (masturbação); expressar suas necessidades e desejos por
exemplo, no contexto de 'brincar de médico'", postou.
Entrega só de 6%
dos respiradores
O
Ministério da Saúde conseguiu entregar até ontem (18) somente 823 respiradores
para apoiar redes de saúde no tratamento de casos graves de coronavírus.
O total representa menos de um terço dos 2.600 equipamentos prometidos para
este mês e 6% dos 14.100 respiradores anunciados em abril pelo Governo
Bolsonaro.
De
acordo com o secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde, Élcio Franco,
o cronograma de entrega de equipamentos tem sido impactado por causa de
problemas logísticos. “Ocorrem atrasos, problemas no desembaraço”.
Ontem
(18), o Brasil registrou 674 novas mortes por coronavírus e 13.140 novos casos.
O total de óbitos é de 16.792. Outros 2.277 óbitos estão em investigação. Já
100.459 se recuperam da doença.
Com informações do Diário do Nordeste