De
acordo com Lydiane Streapco, professora de Psicologia do Centro Universitário
São Camilo em São Paulo, a situação vivida em todo o planeta era impensável há
poucos meses por causa do domínio absoluto da ciência e da disponibilidade de
tecnologia para inclusive deter doenças.
“Nossa
geração estava muito vaidosa de que não experimentaria riscos de morte em
massa, como ocorreu no passado. A natureza, agora, impõe nova realidade.” Para
ela, a situação nos desequilibra, “mexe a fundo com o bem-estar e abala as
relações entre as pessoas.”
“A
mudança de hábito teve que ocorrer muito rapidamente e algumas pessoas podem se
sentir angustiadas”, disse a acadêmica que, como milhões de brasileiros, mudou
sua rotina. Além de trabalhar de casa, ela teve de assumir integralmente os
cuidados com os filhos, de 6 e 8 anos.
Interação
e conflito
A
psicóloga Célia Fernandes, da Enfoque Clínica de Psicologia em Brasília, também
está se adaptando e atendendo seus pacientes de casa por meio do computador e
do celular. As tecnologias que viabilizam o teletrabalho, compras e diversão,
não contornam, entretanto, os problemas da interação humana.
Segundo
ela, conflitos podem surgir na família, entre pais e filhos e entre os casais.
“O conflito é normal. Precisamos trabalhar a comunicação, compreender que temos
personalidades diferentes e interesses diferentes.”
Célia
recomenda a organização e o estabelecimento de regras sobre a divisão do tempo
e do espaço que permitam o trabalho e a rotina de descanso. Para quem tem
filhos, é importante dar atenção às crianças e ao lazer infantil. Já para
adultos, é importante incluir na rotina a realização de atividades de interesse
pessoal, como estudo, leitura ou diversão - como assistir filmes e até maratonar
diversos episódios das séries preferidas. “Como já ocorria em finais de semana.
Precisamos adotar medidas comuns, já que vamos passar mais tempo juntos.”
Ela
alerta, entretanto, que, a despeito de combinados caseiros, o confinamento vai
trazer dificuldades adicionais. “O confinamento vai sim agravar o estado
emocional daquelas pessoas que já tinham algum transtorno ou distúrbio
emocional, como são os casos das ansiedades e vai gerar conflitos entre as
pessoas que não tinham o hábito de ficar tanto tempo em família”.
Excesso
de notícias
Além
do vírus, as pessoas precisam estar atentas a outras adversidades do cotidiano
em tempo de pandemia. Célia Fernandes orienta seus pacientes para que “não se
afoguem” em informações. Ela alerta que “mudar de um telejornal para outro gera
ansiedade, angústia e sofrimento emocional”.
A
professora Lydiane Streapco se preocupa com o excesso de exposição ao
noticiário sobre covid-19., especialmente telejornais que possam ter tom
sensacionalista. Ela também alerta para a veiculação de notícias falsas por
meio das redes sociais.
Apesar
das dificuldades impostas pela reclusão, dos riscos de superexposição midiática
ao novo coronavírus e das possibilidades reais de contaminação e alastramento
da covid-19, a professora acredita que a pandemia não terá o desfecho dos
romances distópicos. “É bom as pessoas não terem medo. As distopias acabaram no
passado por causa do ímpeto humano de enfrentá-las.”
Edição:
Lílian Beraldo
Agência Brasil