Após
a queda histórica do preço do petróleo, que levou pânico aos mercados globais
na segunda-feira (9), o dólar bateu novo recorde nominal e o Ibovespa registrou
a maior queda diária desde 1998. O tombo de 24,10% do barril de petróleo
amplificou os temores de uma recessão global causado pelo coronavírus. Ao fim
do pregão, a bolsa brasileira registrou queda de 12,17% e a moeda americana
fechou com alta de 1,95%, R$ 4,72, após se aproximar de R$ 4,80.
As
cotações internacionais desabaram após anúncio de que a Arábia Saudita
ampliaria a produção de petróleo como retaliação à falta de acordo sobre cortes
na oferta global em reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(Opep).
Apesar
dessa queda, é pouco provável que o consumidor perceba alguma alteração no
preço de combustíveis nos próximos dias. “A perspectiva é de que esse movimento
possa impactar o preço da gasolina, mas essa instabilidade vem pressionando a
taxa de câmbio, anulando parte dessa queda para o consumidor final”, observa o
economista Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do
Ceará (Corecon-CE).
Ontem, o presidente da Federação Nacional
do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda,
disse ser mais provável que a Petrobras siga o roteiro adotado em setembro,
quando um ataque de drones afetou a produção da Arábia Saudita. Na ocasião, a
estatal esperou passar o momento de maior volatilidade antes de reajustar os
preços.
O
economista e consultor Sérgio Melo avalia que uma redução abrupta no preço dos
combustíveis poderia levar desequilíbrio ao mercado. “É preferível que a
Petrobras faça um colchão para que ela não aumente os preços em caso de uma
mudança de cenário de curto prazo. Mas se esse preço veio para ficar, então o
ideal é que sejam feitas pequenas reduções, evitando que a gente fique nessa
gangorra”.
Ontem, a Petrobras afirmou que está
monitorando o mercado de petróleo, mas que ainda é prematuro projetar os
efeitos da queda das cotações internacionais em suas operações. Segundo a
empresa, ainda não há clareza sobre a intensidade ou duração do choque de
preços.
Comércio exterior
No acumulado de janeiro e fevereiro, as
exportações cearenses somaram US$ 344 milhões e as importações US$ 412,8
milhões, resultando num déficit de US$ 68,7 milhões.
“As empresas cearenses que dependem de
insumos dolarizados vão sofrer um impacto em seus balanços, enquanto as exportadoras
podem se beneficiar dessa alta do dólar. De todo modo, o dólar mais caro vai
gerar pressão inflacionária, então o consumidor deverá perceber uma alta de
preços de produtos dolarizados”, diz o economista Ricardo Eleutério,
conselheiro do Corecon-CE.
No ano, o Estado exportou US$ 145,2
milhões de ferro e aço, principal item da pauta cearense. Em seguida aparecem
calçados (US$ 52,9 milhões), máquinas e aparelhos (US$ 34,2 milhões), frutas
(US$ 32,6 milhões) e combustíveis minerais (US$ 16 milhões).
O item “trigo e mistura de trigo com
centeio” ocupa a terceira posição na pauta de importação do Estado, com a
compra de US$ 28,5 milhões nos dois primeiros meses do ano, atrás apenas de
combustíveis. A continuidade da alta do dólar poderá pressionar o preço do pão
e de massas.
Mercado
Com a forte onda de aversão a risco que
contaminou os mercados internacionais na sessão de ontem, a Bolsa brasileira,
depois de atingir 10% de queda na primeira hora de pregão, teve de acionar o
“circuit breaker”, mecanismo que interrompe as negociações para rebalancear as
ordens de compra e de venda.
As
ações ordinárias da Petrobras já abriram com baixa de 21,11% e as preferenciais
com recuo de 20,76%. E às 10h30, quando o Ibovespa caía 10,02%, aos 88.178,33
pontos, os negócios foram interrompidos.
Segundo
Eleutério, a taxa básica de juros (Selic) a 4,25% ao ano, no menor patamar
histórico, é outro fator que contribui para a saída de dólares do País.
“Estamos com um prêmio de risco baixo, o que não atrai o investidor externo,
gerando pressão no câmbio. A gente já vem perdendo investidores externos em
Bolsa há mais de um ano”, ele diz.
Na
quinta-feira (5), os investidores estrangeiros retiraram R$ 1,032 bilhão da B3.
Naquele
dia, o Ibovespa fechou em queda de 4,65%. Com isso, em março, o saldo de
recursos estrangeiros na Bolsa segue negativo em R$ 5,7 bilhões, resultado de
compras de R$ 56 674 bilhões e vendas de R$ 62,375 bilhões. No ano, o saldo
negativo renova recorde histórico, chegando a R$ 45,8 bilhões. Em 2019, a B3
registrou a saída recorde de R$ 44,5 bilhões.
Para
tentar conter a disparada do dólar, o Banco Central vendeu US$ 3 bilhões à
vista das reservas internacionais. No início da manhã, o BC cancelou o leilão
de US$ 1 bilhão que faria e aumentou o valor para US$ 3 bilhões. A decisão se
deu por “condições do mercado”, de acordo com o BC.
O
dia foi marcado por quedas em bolsas ao redor do mundo. O petróleo do tipo
Brent chegou a recuar 31%, no maior tombo desde a Guerra do Golfo. Na Ásia, as
bolsas da China, seguindo o mau humor generalizado, fecharam em queda. O
principal índice acionário do país, o Xangai Composite, teve recuo de 3,01%. E,
na Europa, os mercados fecharam com queda generalizada.
Diario do Nordeste