Um artigo elaborado por pesquisadores brasileiros publicado na Marine Policy, revista especializada em estudos oceânico, afirma que pelo menos oito Unidades de Conservação (UCs) no Ceará foram atingidas pela mancha de óleo derramada no litoral brasileiro em 2019. No país, 59 UCs foram impactadas pela poluição do petróleo.
As
manchas de óleo começaram a ser registradas no litoral cearense no início de
setembro do ano passado. Desde então, 40 toneladas de petróleo cru e sedimentos
foram retirados das praias no Estado, conforme a Secretaria de Meio Ambiente do
Ceará (Sema). Foram afetadas 48 localidades no Ceará, de acordo com o boletim
mais recente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama).
Os
pesquisadores usaram os boletins do Ibama, com dados disponíveis desde o
surgimento do óleo, para a elaboração do artigo científico. Eles foram
motivados a organizar um material que possa ser usados para futuros estudos
sobre o assunto com um grupo formado por professores de universidades federais
das áreas da ciências do mar, biologia, botânica, direito, química, além de
ambientalistas.
Conforme
a publicação, o Ceará está em segundo lugar no ranking com o maior número desse
tipo de localidades impactadas, ao lado de Pernambuco (8), atrás apenas da
Bahia (15).
As
Unidades de Conservação cearenses atingidas pelo óleo foram: Parque Nacional
Jericoacoara, Parque Estadual do Rio Cocó, Parque Municipal das Dunas da
Sabiaguaba, Reservas Extrativistas da Prainha do Canto Verde e do Batoque,
Áreas de Proteção Ambiental do Lagamar do Cauípe, do Rio Pacoti e das Dunas do
Litoral Oeste.
Conforme lei federal, são consideradas Unidade de Conservação
os espaços e seus recursos ambientais com características naturais relevantes.
Tais UCs fazem parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
(SNUC) que tem como alguns objetivos proteger as espécies ameaçadas de
extinção, contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de
ecossistemas e proteger os recursos naturais necessários à subsistência de
populações tradicionais.
O
professor ressalta que no Batoque, no Aquiraz, e na Prainha do Canto Verde, em
Beberibe, as comunidades locais são compostas por pescadores e marisqueiros,
por exemplo, que encontram sustento nas riquezas naturais. “Em desastres com derramamento
de óleo, mais importante do que a quantidade de óleo que vaza é onde esse óleo
chega. Se ele chega em locais muito pobres ou afeta áreas onde tem comunidades
que dependem daquela região para viver isso torna a coisa muito pior”, pontua.
Em
nota, a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) disse que as ocorrências de
óleo foram “esparsas e pontuais”. Quanto às unidades de conservação estaduais,
Parque do Cocó, Dunas do Litoral, Lagamar do Cauípe e Rio Pacoti, a Sema
“articulou a criação de um grupo de trabalho (GT de Combate às Manchas de
Óleo), envolvendo vários órgãos, universidades e secretarias estaduais”. Também
foram atualizados os critérios de balneabilidade da água.
Impactos
Nas
amostras recolhidas foram identificadas gotículas do petróleo cru em
microrganismos conhecidos como plânctons que são base da cadeia alimentar e
produzem oxigênio. Dessa forma, os impactos do óleo atingem os peixes que se
alimentam desses animais e as substâncias do petróleo cru chegam nos seres
humanos por meio da alimentação.
As
tartarugas e os peixes bois também são outros animais afetados pela poluição,
como acrescenta a ambientalista Alice Frota, participante do Instituto
Verdeluz, que integrou o grupo na elaboração do artigo. “O óleo que chegou nas
dunas se espalhou e isso a longo prazo pode causar a intoxicação da fauna
submersa na areia e de outro animais que ali se alimentam. É difícil medir os
impactos quando é algo que se espalha assim fácil”, acrescenta.
Mesmo
depois que as operações de recolhimento de petróleo cru deixaram de ser
necessárias os impactos ambientais continuam a se propagar no nível molecular
porque as substâncias continuam na água e nas areias. “Isso precisa ser
monitorado a longo prazo tanto a parte da biota quanto das comunidades que foram
e que, provavelmente, serão afetadas ainda por um tempo. Precisa ter estudos de
longo prazo para saber o que tipo de consequência isso vai ter”, conclui Luís
Ernesto.
G1 Ceará