Os
acidentes históricos de Three Mile Island (EUA), Chernobyl (Ucrânia) e, mais
recentemente, Fukushima (Japão), em 2011, ainda devem ser lembrados como
exemplos da falibilidade do setor. Não se trata, portanto, de uma preocupação
obtusa, gerada por falta de conhecimento técnico e científico. É inquietação
amparada em fatos. Sabe-se que, matematicamente, as chances de incidentes são
baixas, mas uma ocorrência que desafia probabilidades pode causar prejuízos
incalculáveis.
O
Brasil aprendeu lições com as recentes tragédias de Mariana e Brumadinho que
devastaram as duas cidades? Se o caso Mariana tivesse se tornado um marco para
mudanças na segurança do setor de mineração, talvez Brumadinho hoje estivesse
intacta.
O
problema central é que o País negligencia a prevenção e também incorre em erros
graves no pós-tragédias. Os dois episódios avassaladores à vida humana e à
natureza evidenciam a fragilidade das autoridades em garantir segurança e
dirimir riscos, e isto embasa os calafrios quanto ao novo programa nuclear.
O
Ceará precisa estar incluso nas discussões. Rica em urânio, a mina de Itataia,
em Santa Quitéria, voltou aos planos da União. Por imbróglios ambientais, o
projeto se arrasta há anos. De acordo com especialistas, há risco de
contaminação radioativa. A mina já chegou a criar esperanças de renda naquela
região pobre do Estado e hoje é vista com desconfiança.
Diversificar
a produção de energia é fundamental para que o País seja menos dependente da
matriz hidrelétrica. No entanto, é mais prudente investir em fontes como a
solar e a eólica, que vêm se tornando exequíveis do ponto de vista econômico e
ganhando relevância na composição energética nacional.
Se
o Brasil insistir em robustecer o modelo nuclear, precisará incluir a sociedade
civil, o Legislativo e a comunidade científica num minucioso debate sobre o
tema.
Victor
Queiroz, no jornal Diário do Nordeste