terça-feira, 3 de setembro de 2019

Jornalista baiana relata intoxicação após cobrir morte de baleia na praia

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(Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO)

Não foi o primeiro encalhe de baleia que cobri. Em 2017, no final de setembro, fiz a morte de uma baleia jubarte adulta, com as mesmas dimensões – 40 toneladas distribuídas em 14 metros – também em Coutos, no Subúrbio de Salvador. Na sexta-feira (30), então, fui ciente de que: 1) não devo me aproximar da baleia porque ela libera substâncias tóxicas; 2) vou sentir o pior odor do mundo inteiro de novo.

No local, respeitei a observação número 1. Entrevistei a bióloga Luena Fernandes, do Instituto Baleia Jubarte, a cerca de 5 metros do cadáver do animal. Depois de pegar as informações e contexto do encalhe, me disse o que eu já esperava ouvir: “É extremamente perigoso que as pessoas se aproximem dela, especialmente agora, morta, e com ferimentos expostos”. Eu, que já tinha apurado o suficiente, saí do local. Tinha outra pauta, no Centro.

Desembarquei do carro já com a cabeça pesada. Meus olhos pareciam carregar areia e estavam sensíveis à claridade. Achei que fosse o tempo - fazia um mormaço daqueles – mas eu suava frio. Passei mal na entrevista com o reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), João Carlos Salles – que notou minha instabilidade e adiantou as respostas. Me desculpei e voltei para a redação, onde fui alertada por colegas sobre o inchaço dos olhos.

Pensei que minha pressão tivesse caído, que eu tinha me alimentado mal no café ou que, sei lá, estivesse num dia ruim qualquer. O que sequer considerei, confesso, foi a possibilidade de ter me intoxicado por uma substância liberada pelo corpo da jubarte adulta que atraiu dezenas de moradores à sua volta. Mas foi o diagnóstico que recebi no Hospital da Bahia, onde busquei ajuda depois de sentir que o mal-estar havia piorado consideravelmente.

Contei ao médico que cheguei em casa, depois do trabalho, e dormi por umas três horas. Acordei, no entanto, com alguma dificuldade de respirar. Meus olhos, que estavam apenas inchados, já apresentavam vermelhidão num nível conjuntivite. Depois de um exame de sangue que atestou que eu estava bem clinicamente, com atenção para a pressão baixa, fizeram dois testes de alergia em mim; um no braço, outro nas costas. O resultado foi neutro para ambos.

O médico, então, perguntou o que eu havia feito "fora dos padrões" aquele dia. Eu, que diariamente vivo emoções atípicas nas coberturas da vida, respondi: nada. Ele disse que era estranho, que eu apresentava um quadro de intoxicação.

A palavra, então, me lembrou as benditas "substâncias tóxicas" citadas pela bióloga: "Ah, eu cobri o encalhe de uma baleia", disse. Ele, sem nem pensar muito, garantiu: "É isso". Achei estranho, porque não-cheguei-tão-perto-da-baleia-pois-sei-que-ninguém-deve-ficar-próximo-àquela-imensidão-de-bicho-depois-que-ele-morre-já-que-os-riscos-são-enormes, pensei.

A explicação do doutor, no entanto, envolveu algumas questões: ele disse que não importa se eu tive, ou não, o contato físico – porque algumas das tais substâncias podem ser contagiosas só de respirar no ambiente. Também falou que o fato de ser asmática pode ter favorecido a reação.
Por último, me deu a maravilhosa notícia de que fiz muito bem em ter procurado a emergência. "Imagina, você ia ser notícia amanhã: 'repórter morre após ser infectada por baleia'", brincou. Gargalhadas à parte, reforçou ele, àquela altura eu podia estar enterrada.

O Povo 



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