O
rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, –
que completou seis meses na última quinta-feira (25) – ainda
tem causado reflexos no turismo da cidade mineira de
Brumadinho, a cerca de 50 quilômetros da capital do estado, Belo
Horizonte.
No
Instituto Inhotim, maior espaço cultural ao ar livre da América Latina,
localizado em Brumadinho, o número de visitantes este ano já registra queda
significativa. Entre os anos de 2014 e 2018, a média de visitantes no mês de
janeiro era de 35.188. Este ano, o número ficou em 33.480. Em fevereiro, o
recuo foi de 15.472 para 6.739. No mês de maio, a média de visitantes caiu de
21.212 para 12.916.
A
ocupação da rede hoteleira da cidade também sofreu impactos. Segundo a
Associação de Turismo de Brumadinho, a média de ocupação nos hotéis e nas
pousadas caiu mais de 50% desde janeiro, mas já apresenta sinais de retomada.
Inhotim
Apesar
de se localizar na cidade mineira onde ocorreu o desastre, o Instituto Inhotim
não teve as instalações atingidas e não ficou na rota do fluxo de lama.
A
diretora-executiva do instituto, Renata Bittencourt, espera que o número de
visitantes em julho seja melhor por conta das férias escolares. “Isso é
significativo não só pela nossa renda que cai, mas por toda a rede turística da
cidade que surgiu a partir de Inhotim. Toda essa rede tem prejuízos. Os
restaurantes, os hotéis e as pousadas. Então, a perspectiva
de ter uma atividade regular continuada aqui em Inhotim é
boa para a instituição, mas também é um modo de seguir ancorando todo
um segmento econômico de lazer do território de Brumadinho”, destacou.
A
queda no número de visitantes não foi o único impacto que Inhotim sofreu com o
rompimento da barragem. Renata lembrou que o museu tem cerca de 600 empregados,
entre diretos e indiretos. Uma parte deles ainda se encontra traumatizada pela perda
de parentes e amigos na tragédia.
“Isso
foi o que a gente sentiu mais. É o que veio em primeiro lugar. 80% dos
funcionários são da região e 41% deles tiveram perdas diretas e outros tantos
perderam conhecidos e amigos”, explicou.
Social
A
diretora executiva explica que o Instituto Inhotim é uma importante fonte de
renda da cidade e de geração de emprego. Muitos dos jovens de Brumadinho têm
seu primeiro emprego no espaço cultural.
Mesmo
com as dificuldades de público, o instituto manteve seus projetos sociais. Para
Renata, antes de ser um jardim botânico, Inhotim é um museu e mantém uma função
social com a memória, com a arte, com a cultura e ainda com as populações.
“A
existência de Inhotim aqui nesse território já chama para uma atividade social,
que no nosso caso está vinculada ao econômico, ao nosso engajamento aos
públicos próximos a nós e nos empregos”, afirmou.
Como
exemplo, ela afirma que o instituto manteve em funcionamento a escola de música
para jovens que aprendem instrumentos como violino e contrabaixo. A escola
também ministra aulas para crianças pequenas que fazem experimentação musical e
adultos que aprendem canto.
Em
julho, teve início um projeto de cinema. “Brumadinho é uma cidade sem cinema.
Nós começamos com edição de filmes, com animações atraindo o público familiar e
infantil”, disse.
“A
partir de agosto teremos o projeto Palco Brumadinho. Uma programação
musical que vai atravessar todo o segundo semestre para que a gente possa
convidar a cidade toda a comparecer e fortalecer os talentos locais”,
completou.
Moradores
O
instituto criou ainda um cadastro para conceder entradas gratuitas aos
moradores da cidade. Até o momento, 4 mil moradores se cadastraram e mais de 1
mil passaram pelas instalações do museu.
“É
uma cidade que passou por um trauma e acreditamos que o ambiente de Inhotim
pode ser de relaxamento e de convivência onde os moradores possam se encontrar,
desfrutar dos jardins, ver as obras da nossa coleção de orquídea, sentar para
ler um livro. Estamos de portas abertas para a cidade e muito comprometidos com
a sua recuperação”, afirmou.
Na
avaliação de Renata, a cultura tem grande força para impulsionar economias
locais e mobilizar fluxos de turistas. Para ela, esse é um modelo que tem muito
espaço para crescer no Brasil.
“O
Inhotim é uma instituição que tem 13 anos, mas antes de dele, não havia hotel
nenhum [na cidade]. Não havia pousada. O que já foi implementado pode crescer,
pode ser uma presença de empregos fortes”, avaliou.
*Colaborou
Vinicius Lisboa
Agência
Brasil