O juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara
Federal de Brasília, manteve presos os quatro suspeitos de invadir os celulares
do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e do procurador Deltan Dallagnol, entre
outras autoridades.
Durante
a audiência de custódia ocorrida hoje (30) - após ouvir relatos de abusos e
maus-tratos de policiais contra os suspeitos Gustavo Henrique Elias Santos e
Suelen Priscila de Oliveira - o juiz determinou que Suelen deixe a
Penitenciária Feminina do Distrito Federal e seja encaminhada à sede da Polícia
Federal no aeroporto de Brasília.
Os
outros dois presos – Danilo Cristiano Marques e Walter Delgatti Neto – não
relataram problemas desse tipo. As audiências de custódia são feitas com o
intuito de verificar se os presos estão em condições adequadas e se seus
direitos têm sido respeitados tanto nos estabelecimentos prisionais como em
seus deslocamentos.
Segundo
o advogado de defesa de Gustavo e Suelen, Ariosvaldo Moreira, a expectativa é
de que ambos sejam libertados até quinta-feira (1º), uma vez que Walter
Delgatti Neto confessou ser o responsável pelo acesso aos celulares das
autoridades. O mesmo deverá ocorrer com Danilo Cristiano Marques, que também
alega não ter participação na invasão dos celulares.
Abuso
e constrangimento
Tanto
Gustavo como Suelen se disseram constrangidos em diversos momentos pelos
policiais federais desde que a PF entrou na residência do casal.
“Eu
estava dormindo pelado e eles não deixaram, de jeito nenhum, eu colocar a
roupa. Pedi para colocar cueca e não me deixaram. Fui, inclusive, constrangido
a ficar nu em frente a uma policial federal por cerca de 10 minutos. Pedi
então, por diversas vezes, que queria ligar para meu advogado, para sabre o que
estava acontecendo. Eu disse que eles estavam confundido. Não deixaram eu falar
com ninguém”, disse Gustavo Henrique Elias Santos, primeiro suspeito a depor.
Segundo
Gustavo, foram praticadas agressões verbais diversas vezes, desde a entrada dos
policiais em sua residência, localizada em Araraquara (SP). “Desde o começo eu
colaborei [com os policiais], mas fui bastante agredido verbalmente. Me chamavam
de hacker; de bandido... diziam a todo momento 'tá preso, perdeu'. Até então
não sabia o que estava acontecendo. No aeroporto também fui tratado como
verdadeiro bandido pela polícia", disse.
As
ofensas continuavam após a chegada na PF. “Ouvi muita piadinha dizendo que eu
ia invadir [os celulares dos policiais] e que, por isso, eu não podia olhar
para o nome deles [escrito na farda]. Realmente achei tudo isso muito
desnecessário", acrescentou Gustavo.
Impedida
de ir ao banheiro
Namorada
de Gustavo, a suspeita Suelen Priscila de Oliveira disse também ter sido alvo
de maus-tratos e de abusos. Chorando ao longo de boa parte do depoimento, ela
disse que, além de ofendê-la, os policiais não a teriam deixado beber água, nem
ir ao banheiro ou tomar banho.
“Passei
frio durante toda a noite porque eles me deram apenas um travesseiro e uma
toalha. Não deram absorvente nem papel higiênico. Prefiro morrer do que voltar
para lá. Fui humilhada, mal tratada, e não pude beber água”, disse ela em meio
a queixas sobre “piadinhas” e xingamento feitos pelos policiais federais. “Tive
de tomar água do chuveiro, só quando já estava na penitenciária”.
Diante
do relato, a defesa de Suelen conseguiu convencer o juiz a transferi-la à sede
da PF no aeroporto internacional de Brasília. “O magistrado determinou que
imediatamente Suellen saia do presídio onde se encontra e volte para a sede da
PF no Aeroporto. Ela a todo momento dizia estar sendo mal tratada desde São
Paulo. Acredito que vindo à imprensa essa situação não mais ocorra”, disse
Ariosvaldo Moreira.
Preso
durante curso
Danilo
disse que não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, no momento em que
os policiais chegaram para prendê-lo. Ele encontrava-se em um curso de
primeiros socorros, em uma empresa na qual pretendia trabalhar. “Eles me
pegaram e me algemaram. Na hora achei que era brincadeira, porque o policial
disse ‘perdeu… é a PF’. Isso pegou mal para mim. Não esperava isso”, disse. “Só
na oitiva é que eu fiquei a par do que se tratava”.
Walter
Delgatti Neto também não reclamou do tratamento dado pelos policiais. “Não
sofri agressão física nem psicológica”. Ele acrescentou que em nenhum momento
lhe foi negada a possibilidade de ligar para o advogado.
Ao
final dos depoimentos, o juiz Vallisney acatou o pedido dos advogados de
defesa, para que tenham acesso ao conteúdo dos depoimentos já prestados, bem
como o direito a um banho de sol por dia, algo que, segundo os investigados,
não vinha sendo permitido.
Diante
das declarações de Gustavo e Suelen na oitiva, a Justiça Federal e o Ministério
Público Federal pretendem averiguar o ocorrido junto à Polícia Federal. A PF
informou que não se manifestará sobre o tema.
Agência Brasil