Queda: entre 2014 e 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro acumulou queda de 4,2%, enquanto o da indústria de transformação em todo o país caiu 14,4% (FG Trade/Getty Images) |
Em
paralelo, foram abertas de janeiro a maio 4.491 indústrias, mas o saldo
positivo nem sempre indica algo bom
O
Estado de São Paulo, maior polo industrial do País, registrou o fechamento de
2.325 indústrias de transformação e extrativas nos primeiros cinco meses do
ano. O número é o mais alto para o período na última década e 12% maior que o
do ano passado, segundo a Junta Comercial.
O
dado indica que a fraca recuperação da economia brasileira após a recessão de
2014 a 2016 continua levando ao encolhimento do setor produtivo, deixando um
rastro de fábricas desativadas e desempregados.
Entre
2014 e 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro acumulou queda de 4,2%,
enquanto o da indústria de transformação em todo o País caiu 14,4%. “Significa
que a produção caiu bastante e obviamente teve impacto nas empresas, com
fechamento de fábricas e demissões”, diz o economista José Roberto Mendonça de
Barros, da MB Associados.
Em
paralelo, foram abertas de janeiro a maio 4.491 indústrias em São Paulo.
Tradicionalmente há mais abertura do que baixa de fábricas, mas isso nem sempre
é um indicador positivo. Para Mendonça de Barros, independentemente dos números
de novas indústrias, a queda do PIB industrial mostra que houve encolhimento da
produção e, provavelmente, foram fechadas empresas grandes e médias e abertas
unidades de menor porte.
O
presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Jaú, Caetano Bianco Neto,
afirma que, nos últimos anos, várias empresas consideradas de grande porte para
a atividade, com 300 a 400 funcionários, encerraram atividades. “Quando fecha
uma grande, muitas vezes surgem outras três ou quatro micro e pequenas
fabricantes, algumas inclusive abertas por ex-funcionários, mas com pouca mão
de obra”, diz Bianco Neto.
O
polo calçadista de Jaú, referência nacional na produção de calçados femininos,
já empregou 12 mil trabalhadores em meados dos anos 2000. Hoje tem 5 mil
funcionários, diz Bianco Neto. Recentemente, ele e dirigentes da indústria de
calçados das vizinhas Franca e Birigui entregaram ao governador João Doria
(PSDB) um plano de recuperação do setor.
No
grupo das que fecharam as portas, há indústrias nacionais e multinacionais.
Algumas transferiram filiais para outras unidades da mesma companhia para
cortar custos e outras acabaram com a produção, deixando um contingente de
desempregados, parte deles sem receber salários e indenizações.
A
indústria de autopeças Indebrás, na zona oeste de São Paulo, deixou de operar
em abril e colocou na rua 150 funcionários. Com salários atrasados e sem verbas
rescisórias, eles ficaram acampados em frente à fábrica por 48 dias. Após
acordo na Justiça do Trabalho, a empresa propôs fazer o pagamento em 18
parcelas mensais.
“O
receio é que a empresa pague as primeiras parcelas e depois suspenda o
pagamento, como já ocorreu em acordos anteriores fechados por outras empresas”,
diz o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Érlon Souza.
Conjuntura
difícil
A
situação da indústria paulista se repete em todo o país. Além do encerramento
das atividades de empresas de pequeno porte, grandes grupos fecharam unidades
consideradas menos produtivas e concentraram a produção em outras mais
modernas, quase sempre sem levar a mão de obra.
A
fabricante de pneus Pirelli anunciou em maio o fechamento da unidade de
Gravataí (RS) e a demissão dos 900 funcionários. A produção de pneus de motos
será unificada à de pneus para carros em Campinas (SP) onde serão geradas 300
vagas ao longo de três anos. A empresa alega necessidade de reestruturação
“tendo em vista o cenário conjuntural difícil do País”.
Entre
as empresas que fecharam fábricas este ano estão PepsiCo/Quaker (RS), PepsiCo/Mabel
(MS), Kimberly-Clark (RS), Nestlé (RS), Malwee (SC), Britânia (BA) e Paquetá
(BA). No ABC paulista, a autopeça Dura informou em janeiro que fecharia a
fábrica em maio e demitiria 250 funcionários. Após greve e negociações
envolvendo a prefeitura de Rio Grande da Serra e o Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC, a medida foi adiada.
Exame