A força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná
indicou que políticos da cúpula do MDB que não foram reeleitos e que perderam o
foro privilegiado devem entrar no alvo da Operação Lava Jato.
O procurador Roberzon Pozzobon disse, na última quinta-feira (31), que,
sem o foro, pode-se abrir um novo caminho de investigação.
Nesta
semana, foi realizada a 59ª fase da Lava Jato, que teve como alvo um esquema de
propina envolvendo contratos da Transpetro, uma subsidiária da Petrobras.
Na
época dos crimes, ocorridos entre 2008 e 2017, a Transpetro era comandada
por Sérgio Machado, que estava no cargo sob indicação do
MDB.
Machado,
que é delator, indicou que políticos da cúpula do partido teriam recebido cerca
de R$ 100 milhões em propinas. “Segundo ele [Machado], são pessoas de alto
cargo do MDB”, comentou Pozzobon.
Os
valores ilícitos eram provenientes de contratos fraudulentos com o Grupo Estre,
que atua na área ambiental e na construção naval, segundo as
investigações.
De
acordo com Pozzobon, é difícil identificar, neste momento, os políticos que
receberam os R$ 100 milhões. “Até por uma limitação que temos, por enquanto, no
tocante à parte dos agentes que possuem prerrogativa de foro e que, portanto,
não podem ser investigados na primeira instância”, disse.
A
Lava Jato não citou nomes de políticos, mas, no despacho da juíza federal
substituta Gabriela Hardt em que a 59ª fase foi autorizada, há citação sobre
Márcio Lobão, filho do ex-ministro e ex-senador Edison Lobão (MDB-MA), que
acabou de deixar o Senado, já que não foi reeleito em outubro passado.
Marcio
Lobão foi citado em despacho que autorizou a 59ª fase da Lava Jato Imagem:
Rafael Andrade – 16.jan.2019/Folha Imagem
O
documento da Justiça aponta que o pagamento da propina era feito no Rio de Janeiro
ou em São Paulo. Na capital fluminense, “o dinheiro era entregue em escritório
da rua México, oferecido por Márcio, filho do ministro Edison Lobão”.
A
reportagem não obteve resposta da defesa do filho do ex-ministro. Já
a defesa de Lobão, comandada pelo advogado Antônio Carlos de Almeida
Castro, o Kakay, disse que “a falta de credibilidade da delação e do delator é
evidente”. Pai e filho já estiveram na mira da PF.
Na
delação de Machado, também é citado o agora ex-senador Romero Jucá (MDB-RR),
que, assim como Lobão, teria atuado em benefício da manutenção do delator no
comando da Transpetro. Foi em conversa com Machado que Jucá falou em “estancar
a sangria” da Lava Jato. Jucá também não se reelegeu.
Machado
também citou os, a partir de agora, ex-senadores Garibaldi Alves (MDB-RN) e
Valdir Raupp (MDB-RO).
Os
três emedebistas foram denunciados em agosto de 2017 pelo então
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pelos crimes de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
À
época, Kakay, defensor de Jucá, afirmou que a denúncia era uma “demonstração
clara de um procurador em final de carreira” e que não existia “motivação
técnica” na acusação. Raupp declarou que as citações feitas por delatores
envolvendo seu nome eram “inverídicas e descabidas”. Já Garibaldi disse que
pediria o arquivamento da denúncia por citar a eleição de 2008, na qual ele não
foi candidato.
Em
comunicado à imprensa, a Estre diz que colabora com as investigações e que está
à disposição das autoridades. Já a Transpetro, que se diz vítima do esquema e
que apoia as investigações, apontou estar apurando as irregularidades nos
contratos citados.
As
informações do Portal UOL