Em
dez anos, entre 2007 e 2017, 83,4 mil pessoas morreram nas estradas federais
(BRs) do Brasil. Os óbitos aconteceram, principalmente, nas rodovias de pior sinalização
e em melhor estado de conservação, conforme diagnóstico da Confederação
Nacional do Transporte (CNT). Só no Ceará, ano passado, foram 190 pessoas
mortas nas BRs. Este ano, entre janeiro e 30 de junho, segundo a Polícia
Rodoviária Federal (PRF), outras 88 já endossam a contagem.
No
acumulado de 18 meses, a média é de 15,4 mortes por mês.
As
rodovias federais que mais concentram acidentes com óbitos no Ceará são,
respectivamente, as BRs 116, 222 e 020, as únicas que desembocam em Fortaleza.
Além disso, eles acontecem justamente nos trechos que conectam a Capital a
cidades da Região Metropolitana (RMF), como Caucaia e Maracanaú. Responsável
por registrar as ocorrências quando há mortos e feridos graves, a PRF analisa
que as causas são variadas e dependem de cada trecho.
O
inspetor Flávio Maia, chefe da Comunicação da PRF, exemplificou que, entre os
quilômetros 400 e 430 da BR-020, próximo ao Anel Viário de Fortaleza, foram 30
acidentes com mortes de janeiro de 2017 e ao fim de junho deste ano. Lá, ele
lembra, são tocadas pelo Estado obras de duplicação e há uma intensa circulação
de veículos e pedestres, contexto que, por si só, torna a região caótica e
requer o dobro de atenção ao trânsito.
A
desatenção, aliás, é a principal causa dos acidentes com mortos no Estado,
segundo a PRF. Outras causas relevantes são, em ordem decrescente:
desobediência à sinalização da via, não guardar distância segura do veículo que
trafega à frente, condução sob efeito de álcool, problemas estruturais no
pavimento e velocidade incompatível com a permitida.
Contudo,
quando a CNT cruzou estatísticas nacionais de acidentes nas BRs com análises
detalhadas sobre as condições estruturais das rodovias, constatou que a
sinalização, quando falha ou inexistente, chega a ser mais prejudicial do que
estragos na pavimentação. “Evidentemente que o acidente não acontece só por um
motivo”, reconhece Jefferson Cristiano, coordenador da pesquisa nacional.
Além
do viário, ele cita outros fatores que influenciam no acidente: humano,
veicular, institucional, socioeconômico e ambiental.
“O
fator humano está muito associado à falta de informação. O condutor, por si só,
tem que tomar uma decisão. Numa curva, não tem noção de que ali é perigoso e
acaba fazendo (a manobra) numa velocidade a mais”, exemplificou. Pelo estudo da
CNT, nos trechos em que pavimento e sinalização foram considerados ótimos,
houve índice de 8,4 mortes por 100 acidentes. Já nos de pavimento ótimo e
sinalização péssima, passou para 18,9.
Chefe
do núcleo de Prevenção de Acidentes da PRF no Ceará, Matias Alves afirma, por
outro lado, que, principalmente devido às ações de fiscalização do órgão,
intensificadas em 2014, tem diminuído as mortes em acidentes no Estado.
Comparando os primeiros seis meses de 2017 aos primeiros seis de 2018, Matias
analisou ter reduzido em 44,4% o número de óbitos na BR-020, 33,3% na BR-116 e
50% na BR-222. “Intensificamos a fiscalização com a utilização de radares
(móveis), reforço de policiamento, operações nos feriados e estudos
estatísticos para identificação dos pontos críticos”.
CAPITAL
O
número de pessoas que morreram nas BRs do Ceará em 2017 (190) ainda é 25,7%
menor do que o de mortos só no trânsito de Fortaleza no mesmo ano (256).
