Mais da metade das gestações no Brasil
não é planejada. É o que apontam novos dados da pesquisa “Nascer no Brasil:
inquérito nacional sobre parto e nascimento”, que ouviu 24 mil mulheres nos
anos de 2011 e 2012 em 266 hospitais públicos brasileiros. Do total, 55,4%
relataram que não pretendiam engravidar – 25,5% queriam esperar mais tempo e
29,9% não tinham desejo de serem mães em momento nenhum. Pouco mais de 2% das
entrevistadas disseram ter tentado abortar, sem sucesso.
Das 24 mil mulheres, 4.080 (17%)
tinham entre 10 e 19 anos. Entre elas, o índice de gravidez não desejada
atingiu 66%. A coordenadora da pesquisa, Maria do Carmo Leal, da Escola
Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz), ressalta que
o País avançou em alguns pontos, como a redução da mortalidade infantil, mas
ainda há falha no planejamento familiar.
“Sugerimos que é preciso reforçar as
políticas de planejamento familiar e que a mulher possa escolher o método
livremente”, disse Maria do Carmo.
Ouvidas logo depois do nascimento dos
seus bebês, 2,3% relataram que tentaram abortar. Entre as adolescentes, essa
proporção chegou a 3,4%. O índice é baixo e não reflete a realidade dos abortos
tentados no País, segundo Maria do Carmo.
“Ninguém defende o aborto como forma
de fazer planejamento familiar. Mas, uma vez que aconteça a gravidez, por um
acidente, e a pessoa não queira de maneira nenhuma, a mulher deveria ter o
direito de decidir sobre isso bem no começo da gestação”, afirmou.
As mulheres que planejaram suas
gestações, em sua maioria, são brancas, escolarizadas, têm relação estável, não
fumam nem bebem, têm mais de 35 anos, e renda. Na outra ponta, a das gestações
indesejadas, estão adolescentes pretas e pardas, sem renda, que não têm companheiro
nem marido e abusam de álcool e cigarro. “Quem consegue planejar sua gravidez
são as de melhores condições socioeconômicas. Mostrando mais uma vez que, como
em relação a quase tudo na saúde da população, você tem enormes iniquidades”,
afirma a pesquisadora da ENSP/Fiocruz Mariza Theme.
Estudos anteriores mostram que 70% das
mulheres com vida sexual ativa faziam uso de método contraceptivo. O dado se
choca com a grande proporção de gestações indesejadas apontadas pela pesquisa.
“Tentamos entender esse problema da gravidez indesejada diante da
disponibilidade de métodos contraceptivos. Elas os conhecem e os usam.
Provavelmente não usam corretamente. Não conseguimos nos aprofundar sobre as
causas disso”, disse Mariza.
Com
informações O Estado de São Paulo