A defesa dos 44
policiais militares presos deve pedir, nos próximos dias, a liberdade dos
acusados. Hoje, será montado um escritório jurídico dentro do 5º Batalhão da
Polícia Militar, no Centro, para ouvir os policiais, de forma individualizada.
A previsão é de que, até terça-feira, 6, as versões tenham sido ouvidas por
cerca de 35 advogados das associações dos profissionais.
“Não se pode fazer uma defesa única, porque são
muitas situações diferentes. Têm aqueles que se distanciam das acusações, os
mais comprometidos, os acusados de omissão... Para alguns vamos pedir a
revogação de preventiva, para outros, a liberdade provisória”, diz o advogado
da Associação de Cabos e Soldados Militares do Ceará (ACS), Missias Bezerra.
De acordo com o advogado, muitos dos policiais
presos participaram, no dia dos crimes, de um evento em solidariedade aos
familiares do policial Valtemberg Chaves Serpa, assassinado na noite anterior
em uma tentativa de assalto na Lagoa Redonda. O encontro teria acontecido na
base do programa Crack É Possível Vencer, no Curió. “Alguns estiveram lá e por
isso tiveram o carro fotografado nas imediações. Botaram tudo no mesmo pacote,
mas há inocentes”, diz. Para Missias, parte dos assassinatos teria sido
praticada por traficantes da área. “Ainda há muito a ser revelado”, afirma.
Inconsistência
Ontem, antes de reunião com pequeno grupo de
familiares dos acusados, o coordenador jurídico da Associação dos Profissionais
de Segurança (APS), Victor Torres, afirmou que as prisões “atendem a um clamor
social que não pode ser usado de requisito para determinar (prisão)
preventiva”. “Entendemos que, se os 44 policiais tivessem envolvimento completo,
já teria sido demonstrado nos autos. Boa parte dos policiais estava de serviço
e a viatura foi deslocada para os locais do crime, chamaram o Samu e
resguardaram o perímetro. Alguns até socorreram as vítimas”, disse.
Para Rafael Lima, presidente interino da APS, a
denúncia comprova apenas a chacina. “Mas dizer quem fez o quê, eles não
dizem. E imputam aos profissionais os crimes. Isso pode gerar um enxurrada de
processo por danos morais ao Estado”, apontou.
O POVO apurou que os policiais acreditam que serão
favorecidos por supostas falhas na denúncia feita pelo Ministério Público, como
falta de exames de balística, a presença, nas cenas dos crimes, de policiais
que atendiam à ocorrência da Ciops e acabaram apontados, além de possíveis
depoimentos acusatórios que estariam sem provas.
Durante a tarde de ontem, O POVO tentou contato com
os familiares dos 44 policiais. A maioria dos telefonemas não foi atendida.
Houve quem atendesse e afirmasse que não pretendia conversar com a imprensa
sobre as prisões. Quatro familiares foram abordados na sede da APS e se negaram
a dar qualquer declaração sobre o caso. A esposa de um dos policiais, que
preferiu não se identificar, afirmou que o marido “é inocente”. “Ele é um
policial que nunca fez nada de errado, jamais participaria de um ato assim”.
(colaboraram Cláudio Ribeiro e Domitila Andrade)
Saiba mais
Os autos do inquérito sobre a chacina estão divididos em 12 volumes e três anexos, somando 3.300 laudas. O “roteiro dos crimes” está dividido em nove episódios para facilitar o entendimento do caso. Ao todo, 240 testemunhas foram ouvidas na apuração.
Em entrevista coletiva concedida durante reunião entre os secretários da Segurança do Nordeste, o titular da SSPDS, Delci Teixeira, afirmou que a prisão dos militares “abala a segurança pública”, mas destacou que não se pode “confundir pessoas que participaram de um ato desses com toda a corporação”. Ele enfatizou que apesar de ações dos que “tentam desestabilizar a Polícia”, não houve problemas com a tropa.
“Claro que a tropa não está satisfeita. Muitos colegas daqueles que foram presos demonstraram sua insatisfação, mas não que se possa dizer que chegou a um ato de indisciplina ou que não iriam mais trabalhar. Não aconteceu. Claro que muitas pessoas vão explorar esses fatos, criar situações. Mas isso é normal. Não houve problema, a população pode ficar tranquila.
Os autos do inquérito sobre a chacina estão divididos em 12 volumes e três anexos, somando 3.300 laudas. O “roteiro dos crimes” está dividido em nove episódios para facilitar o entendimento do caso. Ao todo, 240 testemunhas foram ouvidas na apuração.
Em entrevista coletiva concedida durante reunião entre os secretários da Segurança do Nordeste, o titular da SSPDS, Delci Teixeira, afirmou que a prisão dos militares “abala a segurança pública”, mas destacou que não se pode “confundir pessoas que participaram de um ato desses com toda a corporação”. Ele enfatizou que apesar de ações dos que “tentam desestabilizar a Polícia”, não houve problemas com a tropa.
“Claro que a tropa não está satisfeita. Muitos colegas daqueles que foram presos demonstraram sua insatisfação, mas não que se possa dizer que chegou a um ato de indisciplina ou que não iriam mais trabalhar. Não aconteceu. Claro que muitas pessoas vão explorar esses fatos, criar situações. Mas isso é normal. Não houve problema, a população pode ficar tranquila.
Fonte: O Povo online