O curta-metragem “UnderWater: Dive Deep”, dirigido pelo cearense Lucas
Paz, foi selecionado para 9ª edição do Los Angeles Brazilian Film Festival. O
evento considerado o maior festival de cinema brasileiro no exterior acontece
entre sábado (17) e a próxima terça-feira (20). O jovem cineasta já teve crédito em mais de 100 produções entre Brasil e
Estados Unidos, agora realiza mais um sonho.
O filme foi rodado na praia de White
Point e conta a história de Sii, uma mãe solteira que perde o único filho
afogado no mar. Apesar da dor e do sentimento de abandono, ela decide mergulhar
no oceano que levou seu filho e enfrentar sua perda. Ao sair da água, ela
descobre que o mundo mudou, e se depara com personagens surreais, invisíveis a
olhos cotidianos.
Realização de sonhos, é isso que move
o cearense. E desde quando se reconhece como artista, trabalha duro para
almejar o que deseja, que não é pouca coisa. “Um passo a cada dia, e o
fascinante risco de um novo desafio a cada passo”, expressa Lucas.
Lucas tem alma de artista desde cedo.
Ele se reconhece assim quando lembra de uma cena de sua infância. Lucas tinha
uma câmera instantânea do Mickey e, em um passeio pelo Rio Cocó, tirou uma foto
dos seus pés tocando a água. “Minha obsessão por água, movimento e travessia só
começavam”, revela.
Aos cinco anos já fazia parte de um grupo de teatro, o “Alumiar Cenas e Cirandas”. Foi
onde sua paixão pelas artes cênicas foi despertada. Lá ele permaneceu por 11
anos, e durante esse período adquiriu a disciplina necessária para seguir uma
carreira artística.
Da sua infância no Ceará, a saudade e
as lembranças são muitas. Ele era um menino cheio de imaginação, colecionava
pedras, gravetos e arranhões. “Do Ceará tenho saudade dos meus amores, dos
botos na Ponte Metálica, do Dragão do Mar e do Theatro José de Alencar, minhas
‘segundas casas’, de tirar leite de vaca no Aquiraz e ajudar o morador a fazer
o queijo coalho. Tomar banho de bica e os sapos saírem todos pulando…”,
relembra o artista.
Quando a paixão pela arte falou mais
alto, veio a profissionalização. Passou pela mais tradicional escola técnica de
atuação do Ceará, a CAD-UFC. Depois foi para São Paulo estudar, abriu sua
própria produtora e se formou bacharel em Direção Teatral pela USP.
Mas não foi tão fácil. Seu pai, um
homem prático, dos negócios, foi resistente e temia o envolvimento do filho com
as artes. Mas Lucas foi teimoso e seus pais o apoiaram nas suas decisões.
“Tenho a alegria de vê-los na plateia sempre, não importa qual seja o ofício
que eu desempenhe”.
Após seis meses da conclusão de sua graduação, o
cineasta partiu para Los Angeles com o objetivo de fazer Mestrado em Direção de
Cinema. Desafio foi o que não faltou desde que Lucas saiu de
Fortaleza. Ele chegou a sofrer preconceito por ser cearense, brasileiro e por
ser homem que faz teatro. Além do desafio de sair de seu país e se deparar com
um idioma e cultura novos. “O desafio duro mesmo é lavar louça e lavar roupa”,
conta Lucas.
O artista passou pela adaptação a um
mercado de cinema totalmente diferente da realidade que ele estava acostumado.
Para isso, observação foi a chave. Ele conta que “jogou fora” seus 22 anos de
experiência no teatro e se colocou como aprendiz, quando chegou em Los Angeles
há três anos.
“Participava do máximo possível de
sets para aprender a terminologia, as funções, as formas de cada diretor,
cinematógrafo, produtor e primeiro assistente de direção de se portar e de
tomar decisões no set”, relata o cineasta.
Além do filme selecionado para o Los
Angeles Brazilian Film Festival, Lucas foi produtor do curta “Match”, de Diana
Chao, e foi o primeiro assistente de câmera do curta “Red Souls”, de Aditya J.
Patwardhan. O cearense acaba de confirmar a participação da atriz Daniela
Escobar em seu mais novo trabalho, “Erase Me”.
Por enquanto, o cineasta pretende
seguir carreira nos Estados Unidos e alcançar muitos objetivos por lá. O
desejo dele é fazer um PhD em cinematografia e ensinar na universidade
Performance Art e Composição Cinematográfica, quer trabalhar como diretor de
séries de televisão e abrir sua própria escola de arte.
Filmes, peças, intervenções urbanas e instalações artísticas, não me
canso, quanto mais trabalho, mais sorte tenho. Prefiro ser essa metamorfose
ambulante”, assegura Lucas.
Sobre
o LABRFF (Los Angeles Brazilian Film Festival)
Fundado em 2008 pela produtora de
cinema Meire Fernandes e pelo jornalista Nazareno Paulo, o LABRFF se tornou
uma uma vitrine para as produções brasileiras em Hollywood. O Festival já
exibiu mais de 450 títulos, premiou mais de 200 profissionais do cinema e
contribuiu para a realização de longas metragens no Brasil em parceria com os
Estados Unidos.
Fonte: Tribuna
do Ceará