“Não era só a
mensalidade, mas o material didático, o fardamento... Vimos que podíamos usar o
dinheiro em outras coisas”, disse a cuidadora Mistelena Vieira, 38. Em 2016,
ela transferiu o filho de uma escola particular para uma pública. A tão falada
crise financeira brasileira mudou o comportamentos de Mistelena e outros
nordestinos. E Educação, Saúde e Transporte foram os segmentos mais afetados. De acordo com a pesquisa Retratos da
Sociedade Brasileira, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre os
nordestinos entrevistados, 20% tomaram a mesma decisão de Mistelena. Ainda
conforme a pesquisa, 33% deixaram de ter plano de saúde e 48% passaram a usar
mais transporte público.
Para a estudante de Direito Yallis Marques, 23, o
jeito foi vender o carro herdado do pai, que, por três anos, garantiu idas e
vindas. Com a decisão, além da economia com gasolina e manutenção, veio a
necessidade de conter ainda mais os gastos. “Moro próximo à UFC (Universidade
Federal do Ceará), então vou a pé até lá, pego o ônibus universitário, que é de
graça, e tento descer perto do trabalho”.
Se o orçamento está apertado, R$ 64 podem fazer
ainda mais falta. Por esse valor, o atendente de call center José Joeberson de
Sousa, 25, cancelou o plano de saúde. “Primeiro a empresa onde trabalho retirou
o benefício. Mesmo assim decidi continuar. Depois, com o reajuste de R$ 116
para R$ 180, cancelei. Hoje em dia chega a ser luxo ter um plano”, afirmou.
Segundo a pesquisa, essas mudanças de comportamento
resultam em maior procura por serviços públicos, que também passam por uma
restrição fiscal. Os governos, mais do que o habitual, não conseguem responder
à demanda.
Saiba mais
A pesquisa entrevistou
2.002 pessoas, em 141 municípios, entre 24 e 27 de julho.
Nos dados nacionais,
a mudança de escolas foi realizada por 14% dos entrevistados, enquanto 34%
cancelaram os planos de saúde e 48% disseram usar mais o transporte público.
O material traz
ainda dados sobre desemprego, dívidas e custos com habitação.
Fonte: O Povo online