São 58 açudes dos 153
reservatórios do Ceará com volumes que impedem ou dificultam o uso da água. Em
Canindé, quatro açudes que abasteciam a cidade estão fora de utilização
O que restou de espelho
d’água já não é suficiente para atrair o sertanejo. Os moradores de distritos e
sedes urbanas até sabem apontar o caminho até os açudes dos municípios. Mas não
têm muito a fazer por lá. No Ceará, mais de um terço dos 153 reservatórios
chegou aos níveis mais críticos de armazenamento. Trinta e sete deles estão no
volume morto, situação que ocorre quando o nível fica abaixo da tubulação feita
para liberar a água acumulada. Outros 21 estão secos — quando a água está em
quantidade mínima e não tem possibilidade de uso, conforme diferencia a
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
Antes da parede do açude
São Mateus, em Canindé (a 120 quilômetros de Fortaleza), há uma pequena
mercearia fechada. “A gente vendia as coisas para quem vinha tomar banho. Agora
não tem ninguém”, lamenta o aposentado Messias Miranda, 81, diante do açude
seco. Localizado na sede do município, o açude esteve cheio pela última vez em
maio de 2011. Era época em que não faltava água em casa, lembra Messias, que
vive em uma das moradias próximas ao reservatório. “Agora está muito difícil. Chega
água na torneira só em um dia da semana”.
Outros três açudes estão
fora de utilização em Canindé. O Escuridão também está seco. O Salão e o Sousa
estão no volume morto. O abastecimento no município é possível com a adutora
que sai do açude General Sampaio e com cerca de oito poços profundos injetados
diretamente na rede.
A cidade é dividida em
três setores, num racionamento em que, teoricamente, cada parte fica com água
dois dias sim, quatro não. Mas a restrição enfrenta fatores agravantes. Nos
bairros mais altos, como Palestina e Canindezinho, a água demora mais a voltar,
explica Francisco de Sousa Rocha, presidente do Serviço Autônomo de Água e
Esgoto (SAAE) na cidade. Há ainda problemas com a adutora do açude General
Sampaio. “Está funcionando precariamente. Aparecem furos nos tubos, que geram
vazamentos. A Cogerh tem nos dado apoio fazendo a troca do material e cobrando
a empresa responsável”, indica.
Tentar suportar as
dificuldades até o próximo ano, na esperança de boas chuvas, é o que resta ao
autônomo Adriano Vieira, 28. Ele mora na estrada de terra que leva ao Escuridão
e diz ainda utilizar água do açude. “Ela não é boa. Não dá pra cozinhar nem tomar
banho”, especifica. O poço que havia na comunidade está com a bomba queimada.
Agora, a solução é comprar água de cisterna na localidade de Jacurutu, a cerca
de dois quilômetros.
Saiba mais
Castanhão
Como o volume morto ainda
permite uso da água, a Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH) iniciou estudos
para aproveitamento do Castanhão, caso ele desça aos 250 bilhões de litros e
2017 se anuncie como mais um ano de seca. A ação foi uma dentre outras
apresentadas pelo titular da pasta, Francisco Teixeira, em visita à Assembleia
Legislativa no último dia 22.
Bacia do Curu
O último açude a entrar
no volume morto foi o Frios, no município de Umirim. Ele tem capacidade para 33
bilhões de litros e sangrou quatro vezes desde 2004. A última vez foi em junho
de 2011. Desde então, o volume tem caído com exceção de pequenos aportes.
Atingiu volume morto na última sexta-feira, 24.
General Sampaio
A adutora emergencial
saindo do açude General Sampaio foi inaugurada em dezembro de 2014 para
socorrer Canindé e o distrito de São Domingos, em Caridade.
Furos na tubulação e
vazamentos são problemas apontados para a irregularidade do abastecimento
prometido. Desde janeiro, segue em segredo de Justiça na 21ª Vara Cível
processo da Cogerh contra a empresa Cimencol Construções e Serviços, contratada
para a montagem da adutora.
Fonte: O Povo