Uma cirurgia cardiovascular minimamente invasiva
com a técnica da videoscopia foi realizada pela primeira vez no Ceará na última
terça-feira, 19. Popularmente conhecido como “ponte de safena” ou pontes
mamárias, o procedimento de revascularização do miocárdio contou com a ajuda de
microcâmera, sem necessidade da abertura do osso esterno no tórax dos
pacientes. As duas pessoas operadas no Hospital Aldeota passam bem e têm
previsão de alta para este fim de semana.
O procedimento foi feito em uma mulher de 49 anos,
transferida de Belém para Fortaleza, e em um homem de 62 anos, vindo de São
Luís. Ambos os pacientes sentiam dores no peito e foram diagnosticados com
entupimento na artéria coronária, após exames de cateterismo. As informações
são do médico Adriano Milanez, que realizou as cirurgias junto com o médico
Flávio Camurça. Placas de gordura, colesterol, coágulos e outras substâncias
podem levar à obstrução das artérias, com a manifestação de dores e infarto.
Com a introdução da câmera em pequenos furos no
peito em vez da abertura do osso esterno, as imagens dispostas em um monitor
guiam os médicos na retirada de um pedaço de artéria mamária. O enxerto é
utilizado para fazer uma ponte e dar novo caminho ao sangue, substituindo a
artéria com entupimento ou obstrução completa. A abertura do pericárdio,
espécie de membrana que envolve o coração, também é feita por visão indireta,
pela câmera.
A parte final vem com pequena incisão na altura da
costela. Com este corte em tamanho semelhante ao realizado em cirurgias de
apendicite, a ligação dos vasos é feita manualmente pelos cirurgiões.
Recuperação rápida
Por ser menos invasivo, o procedimento tem
recuperação mais rápida em relação à cirurgia convencional. Os dois pacientes
deixaram na quarta-feira a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seguem
internados. Provavelmente terão alta amanhã, informa Adriano.
A média é de um dia na UTI e três a quatro dias de
internação no quarto do hospital. A cirurgia convencional exige de três a
quatro dias na UTI e sete dias no leito antes da alta, compara o médico.
“Enquanto o paciente que teve o osso (esterno) serrado volta às atividades
normais cerca de três meses depois, isso acontece depois de algumas semanas
neste procedimento”, explica.
A técnica
A videoscopia em cirurgias de revascularização do
miocárdio foi a tese de doutorado de Adriano na Universidade de São Paulo
(USP), iniciado em 2017. Graduado na Universidade Federal do Ceará (UFC), ele
já realizou 40 procedimentos na cidade de São Paulo e na região da Baixada
Santista. Esta semana, realizou pela primeira vez no Ceará.
A técnica de cirurgias minimamente invasivas com
ajuda de câmeras tem sido estudada e aplicada no Brasil. No Ceará, há também
cirurgias de troca de válvulas cardíacas por vídeo.
As pontes mamárias por videocirurgia ainda têm alto
custo financeiro e não têm cobertura pelos planos de saúde ou pela rede
pública. Tentativas de normatizar e popularizar o procedimento são feitas pela
Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. “Por diminuir o tempo de
internação, é interessante para os hospitais. Mas o processo de custear deve
ser mais rápido nos planos de saúde em relação ao SUS”, diz Adriano.
Fonte: O Povo













