O dia seguinte à ruidosa ordem de condução do
ex-presidente Lula ao aeroporto, para prestar esclarecimentos, suscita muitas
dúvidas e mostra a incapacidade da imprensa brasileira em entender o que se
passou realmente e em fazer os questionamentos que têm que ser feitos. A
principal dúvida é por que o depoimento foi tomado no aeroporto e não numa
delegacia, fórum ou outro local qualquer? Ao se levar Lula para o aeroporto, a
Polícia Federal e o Ministério Público Federal, por meio da chamada
“força-tarefa da lava-jato”, deram uma nova função a este espaço destinado
exclusivamente aos viajantes. Agora, todo mundo sabe que no Brasil aeroporto é
local de chegada e partida de aviões e, também, de interrogatórios policiais.
A nova modalidade investigativa criada pela Justiça Federal do Paraná
em parceria com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal tem “muitas
vantagens”. Por exemplo: o acusado é ouvido num local “silencioso”, onde
só se percebem ruídos, em elevados decibéis, das turbinas dos aviões e o murmúrio
de milhares de pessoas falando ao mesmo tempo. No mais, existe um silêncio
maior do que nos cemitérios, garantindo a perfeita audição das perguntas dos
investigadores e das respostas do acusado.
Ordem: pôr Lula
num avião
À luz dos fatos, qualquer pessoa com um mínimo de raciocínio percebe
que a intenção era pôr o Lula num avião e levá-lo a Curitiba. E essa informação
era de conhecimento de centenas, talvez milhares de pessoas, tanto que havia
aglomerações no aeroporto de São Paulo e no de Curitiba. Outro sinal de que
havia algo no ar, além dos aviões de carreira: na frente da sede da Polícia
Federal, no bairro Santa Cândida, na capital paranaense, onde normalmente são
levados os presos da “lava-jato”, havia uma concentração muito grande de
pessoas. Até o ultrarreacionário Jair Bolsonaro, com várias caixas de foguetes,
estava lá.
E por que Lula não foi posto no avião? É o grande mistério que pode ser
desfeito nos próximos dias, mas cuja existência a imprensa fez questão de
ignorar. Um sinal claro de que a viagem forçada do ex-presidente foi abortada
por alguma ordem superior foi a veemente condenação pelo ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF), Marco Aurélio Mello, a toda espalhafatosa
operação da força-tarefa da lava-jato. E a dúvida vem daí: Será que o STF não
mandou desmontar o circo que se armou para render manchetes para a imprensa e
devolver a Lula à liberdade?
Se nós, jornalistas,
fôssemos mais jornalistas, talvez as autoridades desde País não nos dessem
tanto circo e tão poucas realizações. É hora se pensar todo o país.
Incluindo o jornalismo que nele se faz de maneira tão superficial e venal.
Fonte: Notícias Paraná.