Os ataques em Paris na sexta-feira
voltaram a colocar em foco o grupo extremista autodenominado "Estado
Islâmico" (EI), que assumiu a autoria dos atentados que mataram ao menos
129 e deixaram mais de 350 feridos.
Com suas
táticas brutais, que envolvem assassinatos em massa, sequestros de minorias
religiosas e decapitações divulgadas pela internet, o grupo vem gerando uma
onda de medo e ódio em todo o mundo.
Mas o que é
realmente o "EI"? Quem o financia? E quantos membros têm? A seguir,
respondemos a estas e outras perguntas.
1. O que é e o que quer o
'Estado Islâmico'?
O grupo estabeleceu um califado, uma
forma de Estado dirigido por um líder político e religioso de acordo com a lei
islâmica, a sharia. O 'EI' controla hoje um território que engloba partes da
Síria e do Iraque.
Apesar de estar presente só nestes
dois países, o grupo prometeu "romper as fronteiras" do Líbano e da
Jordânia com o objetivo de "libertar a Palestina" e, para isso, tem
pedido o apoio de todo o mundo muçulmano, além de exigir que todos jurem
lealdade a seu líder (califa), Abu Bakr al-Baghdadi.
2. Qual é sua origem?
Para buscar as raízes do 'EI", é
preciso voltar a 2002, quando o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, já falecido,
criou o grupo radical Tawhid wa al-Jihad.
Um ano depois
da invasão liderada pelos Estados Unidos no Iraque, Zarqawi jurou lealdade a
Osama bin Laden e fundou as bases da Al Qaeda no Iraque, que se tornou na maior
força insurgente dos anos de ocupação americana.
No entanto,
depois da morte de Zarqawi em 2006, a Al Qaeda criou uma organização
alternativa chamada" Estado Islâmico de Iraque "(Isi, na sigla em
inglês).
O Isi foi
enfraquecido pelos ataques das tropas americanas e pela criação dos conselhos
sahwa, liderados por tribos sunitas que rejeitaram a brutalidade do grupo.
Em 2010, Abu
Bakr al-Baghdadi se tornou seu novo líder, resconstruiu a organização e
realizou múltiplos ataques. Três anos depois, se união à rebelião contra o
presidente sírio Bashar al Assad, junto com a frente Al Nusra.
Abu Bakr
anunciou a fusão das milícias no Iraque e na Síria em abril daquele ano e a
batizou como" Estado Islâmico do Iraque e do Levante "(ISIS, na sigla
em inglês).
Os líderes da
Al Nusra rejeitaram esta fusão. Mas os combatentes leais a Abu Bakr o seguiram
em seu empenho jihadista. Em dezembro de 2013, o ISIS se concentrou no Iraque e
aproveitou a divisão política entre o governo de orientação xiita e a minoria
sunita.
Com a ajuda de
líderes tribais, conseguiram controlar a cidade de Faluja. Mas o grande golpe
veio em junho de 2014, quando assumiram o controle de Mosul, a segunda maior
cidade do país, e continuaram a avançar rumo à capital, Bagdá.
Em julho, já
controlavam dezenas de outras cidades e localidades. Neste ponto, o Isis
declarou ter criado um califado e mudou seu nome para" Estado Islâmico
".
3. Quanto território o grupo
controla?
Estimativas
dão conta de que o grupo e seus aliados têm sob seu controle ao menos 40 mil
km² no Iraque e na Síria, quase o equivalente ao território da Bélgica. Mas
outros analistas afirmam que são cerca de 90 mil km², o mesmo que toda a
Jordânia.
Esse
território inclui as cidades de Mosul, Tikrit, Faluja e Tal Afar no Iraque, e
Raqqa na Síria, além de reservas de petróleo, represas, estradas e fronteiras.
Ao menos 8
milhões de pessoas vivem em áreas controladas total ou parcialmente pelo 'EI',
que faz uma interpretação radical da sharia, forçando mulheres a usar véu,
realizando conversões forçadas, obrigando o pagamento de um imposto e impondo
castigos severos, que incluem execuções.
4. Quantos membros tem?
Autoridades
americanas acreditam que o" Estado Islâmico "tenha cerca de 15 mil
combatentes. No entanto, o especialista em segurança iraquiano Hisham al-Hisham
estima, no início de agosto, esse número em entre 30 mil a 50 mil.
Por volta de
30% deles o faz por pura convicção, enquanto o restante foi coagido pelos
líderes do grupo a entrar nele. Um número considerável de combatentes não é
iraquiano ou sírio. A consultoria Soufan, especializada em segurança no Oriente
Médio, estima que haja ao menos 12 mil estrangeiros entre seus membros, dos
quais 2,5 mil teriam vindo de países do Ocidente nos últimos três anos.
5. Que armamentos usa?
Os membros
do" EI "têm acesso a e são capazes de usar uma grande variedade de
armas, inclusive artilharia pesada, metralhadoras, lançadores de foguetes e
baterias antiaéreas. Em suas incursões militares eles capturaram tanques de
guerra e veículos blindados dos Exércitos sírio e iraquiano.
Além disso, o
grupo tem um constante abastecimento de munição que mantém seu Exército bem
armado. O poder de seus ataques recentes e enfrentamentos com o Exército curdo
no norte do Iraque surpreendeu a muitos.
6. Como se financia?
O grupo disse
ter US$ 2 bilhões (R$ 7,6 bilhões) em dinheiro. Isso faria dele o grupo insurgente
mais rico do mundo.
A princípio,
seu apoio vinha de indivíduos de países árabes do Golfo Pérsico, como Catar e
Arábia Saudita. Ultimamente, consegue se sustentar ao ganhar milhões de dólares
com a venda de petróleo e gás dos campos que controla, dos impostos que recolhe
em seu território e de atividades ilícitas, como contrabando e sequestro.
Sua ofensiva
no Iraque também foi bastante lucrativa, já que obteve acesso ao dinheiro que
estava nos bancos das principais cidades que passou a controlar.
7. Por que suas táticas são tão
brutais?
Os membros
do" EI "são jihadistas que fazem uma interpretação extrema do ramo
sunita do Islã e acreditam ser os únicos reais fiéis. Veem o resto do mundo
como infiéis que querem destruir sua religião.
Desta forma,
atacam muçulmanos e não muçulmanos. Decapitações, crucificações e assassinatos
em massa já foram usados para aterrorizar seus inimigos. Os militantes usam
versos do Corão para justificar seus atos, como trechos que incitam
a"golpear a cabeça"dos infiéis.
O líder da Al
Qaeda, Ayman al-Zawahiri, condenou as ações do" EI "em fevereiro
passado e advertiu ao califa que a brutalidade o faria perder o" coração e
a cabeça dos muçulmanos ".
Fonte: UOL.













