Você pode não
gostar de Lula. Pode detestar. Pode abominar.
Mas você vê uma entrevista como a que ele concedeu ontem ao
jornalista Kennedy Alencar, no SBT, e logo entende por que os caras têm
tanto medo dele.
Imagine Lula, numa eventual campanha em 2018, debatendo com Aécio. Ou com
Serra. Ou com Alckmin.
Ou com quem quer que seja.
É concorrência desleal. É profissional versus mirins.
O tempo deixou claro que desde Lacerda os brasileiros não viam um talento
tão notável em oratória.
Com a diferença de que Lacerda falava a língua da classe média, e Lula
fala a língua do povo.
Lula é um natural, para usar uma expressão inglesa. Nasceu orador.
O resto foi consequência, da carreira sindical à presidência.
Ele fala com graça, com verve, com espírito. E, talvez o maior de seus
atributos retóricos, transmite sinceridade.
Tudo isso se viu na entrevista de ontem.
A forma como ele referiu às invencionices contra seu filho Lulinha faz
você rir e refletir. Ele disse que Lulinha é dono da Casa Branca e da Torre
Eiffel.
Só com muito mau humor para não deixar escapar uma risada.
As referências a FHC foram também um dos pontos altos da entrevista.
Primeiro, na
questão de fundo: a inveja que FHC parece ter de Lula. Com o
correr dos dias, FHC foi diminuindo do ponto de vista histórico e Lula
aumentando.
Hoje é claro que FHC governou para os ricos, para a plutocracia. E Lula
para os excluídos.
É justo, num país tão desigual, que Lula seja por isso tão maior que FHC.
Lula deu também uma resposta definitiva a FHC na questão da corrupção.
Toda vez que ele falar em corrupção tem que pensar na emenda que permitiu sua
reeleição.
O Congresso foi comprado com
dinheiro vivo, embalado em malas, para que FHC pudesse ter um segundo mandato.
Na questão da Petrobras Lula deixou escapar uma estocada sutil mas doída
na imprensa.
Disse que jamais a
nossa gloriosa imprensa
o avisou de corrupção na Petrobras. É verdade. Nunca jornais e revistas fizeram nada no
campo investigativo sobre a Petrobras.
É uma mídia viciada em vazamentos, em receber tudo no colo e depois gritar
como se estivesse fazendo um outro Watergate.
Na entrevista, Lula mostrou também um bom senso que vem faltando a quase
todo mundo.
Ficar falando em eleições três anos antes é uma insensatez. É conhecida a
grande frase de Keynes: “A longo prazo estaremos todos mortos”.
Há um tempo para cuidar de eleições, e não é este de agora. Há problemas
presentes que devem ser enfrentados antes de nos debruçarmos sobre 2018.
Temos na presidência da Câmara, por exemplo, um embaraço monstruoso,
Eduardo Cunha.
E temos também uma imprensa que se bate até contra o direito de resposta,
uma coisa sagrada em qualquer democracia.
Há hora para tudo.
Por enquanto, o
que se viu, ontem, é que não é à toa que os caras temem tanto Lula.
Quem não temeria se estivesse no lugar deles?
Fonte: Diário do Centro
do Mundo.













