Especialistas e
parlamentares analisam o efeito da possível reforma anunciada pelo ministro do
Planejamento Nelson Barbosa. É possível que ganhos financeiros representem
risco para a já delicada situação política do PT
Pressionada, a
presidente Dilma Rousseff (PT) cedeu aos pedidos da oposição e anunciou ontem
cortes na máquina pública. O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, adiantou
que, até setembro, dez ministérios devem ser extintos ou fundidos. Para
especialistas e parlamentares, o gesto terá efeitos para além da redução de
custos. “Muito maior que o impacto financeiro é o impacto político. Vamos
apertar o cinto: vender imóveis, economizar com energia e transporte. É uma
ação enérgica em todas as direções”, explica o líder do governo na Câmara, o
deputado federal José Guimarães (PT-CE).
De acordo com o
parlamentar, a reforma atende a demanda da sociedade e do parlamento. A
presidente informou que mil cargos de confiança serão cortados do quadro com 22
mil comissionados. “Queremos também reduzir secretarias em ministérios que não
serão extintos”, declara Dilma. Segundo ela, a reforma tem caráter “mais
estruturante”. Barbosa complementa: “É vital e crucial aumentar a produtividade
dentro do governo”.
Para o economista
da Universidade Federal do Ceará (UFC), Andrei Simonassi, existe a
possibilidade de o corte ser apenas simbólico. “Em tese, os gastos devem cair.
Isso se não aumentarem as secretarias e os recursos de outros ministérios que
permanecerão”, analisa. Ele alerta ainda que há risco de enfraquecimento
político, já que haverá, pelo menos, dez pessoas a menos negociando em favor da
presidente.
A historiadora da
Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Aquino, atenta para fator que
limita os benefícios do pacote. “É necessário ver o que o corte representa em
termos de emprego e desemprego. Reduzir a máquina desemprega pessoas, mesmo que
estejam ali por indicação”, avalia a pesquisadora. Aquino pondera, no entanto,
que reduzir o poder de barganha do governo tem efeito positivo. “Talvez tire um
pouco dessa troca de cargo por apoio”, diz.
Segundo o senador
Eunício Oliveira (PMDB -CE), parte da base governista, a atitude manda uma
mensagem esperada. “É uma sinalização de que o governo está preocupado com a
crise e buscando saídas”, comenta.
“Chegou tarde”
A reforma
ministerial tem sido uma das reivindicações mais recorrentes da oposição desde
2014. Finalmente ouvidos, oposicionistas afirmam que a decisão veio tarde e é
insuficiente.“É preciso apresentar proposta ampla. Fazer a fusão e extinção de
estatais onde há mais casos de corrupção”, argumenta o deputado federal
Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE). O parlamentar também diz que o gesto parece
ter sido mais “jogada de marketing que vontade de mudança”.
No setor
empresarial, o presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC), José Dias
Vasconcelos, tece críticas. “A reforma é excelente, mas chegou tarde. Era para
ter feito a partir da divulgação da crise”, afirma. (Colaborou Jéssica Welma,
com agências)
Fonte: O Povo