A presidente Dilma Rousseff irá terminar o seu
mandato e o país não está fora do controle, disse o ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, em entrevista nesta quinta-feira em Brasília. O comentário vem no
mesmo dia em que cresceu número de parlamentares que articula fim do governo e
quando popularidade da presidente cai a nível recorde.
“É obvio e ululante” que Dilma terminará o mandato.
“Não vejo razão e nem benefício para o impeachment.”
O comentário do ministro, que não aparentava tensão,
vem após o dólar bater máxima de R$ 3,5696, com nova derrota do governo na
Câmara, saída do PDT e PTB da base aliada e pesquisa Datafolha mostrando
reprovação de Dilma subindo para 71%, maior da série. Dólar encerrou o dia a R$
3,5356, mantendo o nível mais alto em 12 anos.
PMDB avalia como retirar Dilma do cargo por meios
constitucionais, disse um dos principais nomes do partido sob a condição de
anonimato. Um terço dos deputados do PMDB na Câmara defende a abertura de um
processo de impeachment, disse o deputado Darcisio Perondi, um dos vice-líderes
do partido.
Levy interrompeu a entrevista algumas vezes para
atender ligações telefônicas, inclusive da presidente Dilma convidando-o para
que ele a acompanhasse em uma visita à Roraima, ao mesmo tempo em que mascava
aipo porque, segundo ele, tem fibra e faz bem à saúde.
Sobre derrotas do governo no Congresso que podem
comprometer o ajuste fiscal, como a aprovação em primeiro turno da PEC do
reajuste da AGU, delegados e procuradores, Levy disse que é preciso tempo para
congressistas “entenderem a nova realidade”
“O Congresso tem o ritmo dele”, disse. “Fui a
algumas reuniões. Eles estão tentando entender o novo mundo. Tem que dar um
tempinho para entender, principalmente a Câmara. Nem todo mundo pensa em
economia o tempo todo”.
Downgrade
Para Levy, “o País não está fora de controle” e é
descabido pensar em downgrade.
“Temos ferramenta para evitar o downgrade”, disse o
ministro. “E acho que é descabido todo mundo ficar aceitando como absolutamente
normal ter downgrade”. Acrescentando que o governo está “tomando as medidas que
tem que tomar. Não só na área fiscal, que todo mundo se encanta, como em outras
áreas.”
A S&P reduziu perspectiva da nota de crédito do
Brasil de estável para negativa em 28 de julho, citando “circunstâncias
políticas e econômicas desafiadoras”.
Levy disse que o downgrade poderia gerar demissões
no mercado financeiro.
“Vamos traçar um plano de ação para evitar o
downgrade”, disse ele. “O próprio mercado financeiro vai dar uma encolhida
colossal” se houver downgrade. “Em 2002 parecia que o mundo ia acabar e não
acabou”
Questão fiscal
Após o governo reduzir a meta de superávit primário
do setor público de 1,1% do PIB em 2015 para 0,15%, no mês passado, Levy pede
cuidado com área tributária e fala em abrir economia para o mercado externo.
“Temos uma questão fiscal que a gente tem que encarar
de frente”, disse ele. “Tem um trabalho duro na área de gasto. A gente tem que
ter certo cuidado com a carga tributária. Houve uma erosão mas tem que atacar
de forma inteligente. Tem que tomar medidas para adequar a economia à nova
realidade.”
Ele disse novamente que a redução da meta não
significa que o ajuste acabou. “Ao contrário. A gente tem que fazer mais
ajuste”.
“Ficam me perguntando quando eu vou ter boas
notícias, eu sei lá quando vou dizer boas notícias,” disse ele. “Não adianta
ficar discutindo agenda do pós-ajuste. O ajuste tem vários aspectos e a gente
tem que fazê-lo concomitante.”
Fonte: Exame