A
desintegração da base política da presidente Dilma Rousseff (PT) intensificou a
disputa interna entre quatro dos principais nomes do PSDB com interesse em
subir a rampa do Palácio do Planalto. Os senadores Aécio Neves (MG) e José
Serra (SP), o governador Geraldo Alckmin (SP) e o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso conspiram e articulam para manipular o cenário político em
favor de seus projetos de poder.
Aécio aposta e estimula o agravamento da crise. Sua melhor
chance está na realização de novas eleições para aproveitar o recall das urnas
de 2014, que o colocam à frente nas pesquisas. É um cenário improvável. Para
isso, tanto Dilma quanto o vice-presidente Michel Temer (PMDB) teriam de ser
afastados ou renunciar. A cassação da dupla viria pela constatação pelo
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que a campanha da aliança PT-PMDB foi
financiada com dinheiro ilícito, endossando a tese da Operação Lava Jato.
Nesse rumo, Aécio manipula o mote das manifestações
convocadas para o dia 16 de agosto, que passarão a reivindicar novas eleições.
A tese do senador é de que só as urnas darão legitimidade para o novo
presidente enfrentar a crise política e econômica. Ao seu esforço se soma o ultrarradical
líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado, que verbaliza o tom mais forte,
impróprio até para Aécio. Em outra trincheira, o mineiro estuma sua base tucana
no Congresso, encabeçada pelo senador Cássio Cunha Lima (PB), contra a ideia
autoproclamada por Temer de que é necessário alguém (ele próprio, como
traiu-se) que consiga unificar o país.
A estratégia Itamar
Já José Serra, o menos ostensivo no
jogo das conspirações, ensaia uma aproximação com Temer. O senador paulista
antecipou-se aos correligionários no aceno ao peemedebista, vislumbrando a
insustentabilidade da permanência de Dilma no poder, com a consequente assunção
do vice. O movimento de Serra, ousado e perigoso, prevê uma de solução ao
estilo Itamar Franco-FHC: Serra assumiria um ministério com a missão de
recolocar a economia nos trilhos, cacifando-se para a disputa em 2018. O
problema que se coloca é que, com ou sem Dilma, os próximos três anos serão de
muito esforço, negociações nem sempre republicanas com o Congresso e
impopularidade para implementar as medidas necessárias ao resgate da economia.
Serra pode sair mais queimado do que entrou.
Mantendo
a discrição, Serra tenta esconder suas intenções. Na Folha deste domingo (9),
concede uma entrevista sem pé nem cabeça, despistando das perguntas da repórter
que forçava a barra na tentativa de extrair, em vão, alguma confissão do
senador. "O futuro não pode ser vítima de um presente de
irresponsabilidades", não disse. "O volume e a qualidade dos projetos
que estão sendo apresentados não têm efeito apenas sobre o governo Dilma, mas
principalmente a médio e longo prazo". Hã?!
Aliança São Paulo-Goiás
A estratégia de Geraldo Alckmin é
manter o governo e o PT nas cordas até 2018 para chegar em vantagem na disputa
presidencial -- pelo que aparenta, setores importantes da economia (Bradesco,
Fiesp, Firjan) e da mídia (Globo) aderiram à ideia. Desde os primeiros sinais
da crise política o governador paulista tem escalado seus aliados para a missão
de manter o incêndio sob controle. O principal deles é o governador de Goiás,
Marconi Perillo, que numa ocasião chegou a dizer que o PSDB foi derrotado nas
urnas e que o resultado deve ser respeitado. Também não economiza nos elogios a
Dilma, aproveitando para tentar beliscar alguma verba federal para reforçar o
caixa do Estado, que, como os outros, sofre os efeitos da crise.
Marconi,
que faz um governo realizador em Goiás, tenta ganhar projeção nacional. Num
jogo bem feito, vem se consolidando como líder de um blocão de estados das
regiões Centro-Oeste e Norte. O goiano promove a ideia de que representa uma
parcela importante do Brasil, que cresce e se desenvolve mesmo na crise. Sabe,
contudo, das limitações de pertencer a uma região com eleitorado reduzido. Por
isso, joga para ser o vice numa chapa pura com o colega paulista. Muito se
especula sobre sua filiação a PSD do ministro Gilberto Kassab, o que Marconi
nega enfaticamente,
FHC começa a gostar do jogo
A mais recente investida no PSDB é do
tucano-mor, FHC, que resolver colocar as asas de fora. O ex-presidente diz ter
sido procurado por Lula (que nega) para debater uma solução de unidade para a
crise de modo a preservar o país. Com a manobra, FHC se veste com a toga de
magistrado, incutindo a ideia de que ele seria uma espécie de salvador da
pátria capaz de trazer a nação de volta ao caminho da institucionalidade. E
isso pode ser agora, em eleições antecipadas, ou em 2018, com o PT mortalmente
ferido. Por que não?
Ato contínuo, Fernando Henrique exige, para debater a solução
da crise, que Lula admita os erros do PT e do governo. Na prática, significaria
o resgate da imagem dos governos tucanos, triturados pela opinião pública. Quem
melhor para fazer isso do que o principal adversário?
A estratégia henriquista arregimenta outro apoio
importantíssimo chamado Marina Silva. Nos bastidores da Rede Sustentabilidade,
agremiação que a ex-ministra de Lula quer transformar em partido, já é certo o
pacto entre a líder seringueira e o sociólogo arrependido. Marina aceita
assumir o encargo de ser vice numa eventual composição com o PSDB, desde que o
cabeça seja FHC. Se não há declarações explícitas de ambos nesse sentido,
existe farta literatura nos jornais do último ano com elogios mútuos. Com
Marina no time, o ex-presidente tem argumentos de sobra para ser o ungido em
qualquer tempo. E tem outro detalhe: ela continuaria no PSB, dando ainda mais
peso à aliança.
Fonte: Brasil 247.