Na entrevista
do escritor cubano Leonardo Padura para o programa Roda Viva, da TV Cultura, na
última semana, chamou a atenção o questionamento da repórter da Veja, Nathalia
Watkins. Em tom afirmativo, Nathalia garantiu que os cubanos morriam de fome na
ilha caribenha, relatada pela jornalista como um local socialmente
catastrófico.
Destaque da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip),
Leonardo Padura rebateu as certezas de Nathalia com sobriedade: "Uma das
coisas que tento evitar sempre, quando me perguntam sobre as realidades de um
país que visito, é dar minha opinião. Porque uma realidade só pode ser
conhecida por quem participa dela, vive nela. Em Cuba, é certo que há pobreza,
não posso negar. Mas ninguém morre de fome em Cuba. De uma forma ou de outra,
as pessoas comem e têm um teto. Há mais gente na rua em um quarteirão aqui de
São Paulo do que em toda Cuba".
Após a enorme repercussão do episódio, sobretudo nas redes
sociais, a editora do escritor cubano, Ivana Jenkins, revelou em sua conta
pessoal do Facebook que Nathalia, ao final do Roda Viva e com as câmeras já
desligadas, admitiu que fez apenas "as perguntas que o Augusto
[apresentador] mandou".
"Cena do ótimo Roda-Viva com Leonardo Padura, exibido na
última quinta-feira. O programa deveria ter girado em torno de seu livro 'O
homem que amava os cachorros' (Boitempo Editorial), mas a bancada (com a
honrosa exceção de Maringoni Gilberto e a surpresa que foi José Nêumane),
preferiu exibir seu parco conhecimento da realidade cubana. Ao final da
entrevista, ainda nas dependências da TV cultura, a jornalista da Veja contou –
para o entrevistado, seus acompanhantes e demais jornalistas — que apenas cumpriu
ordens, fez "as perguntas que o Augusto [o apresentador] mandou".
Liberdade de imprensa é isso aí...", publicou Ivana.
Augusto Nunes, atual mediador do Roda Viva, é um antigo
colunista da revista Veja. Politicamente, se assemelha a Reinaldo Azevedo, que
também trabalha para a mesma revista.
Interesses dos donos
O
jornalista Paulo Nogueira considera patética a rotina que se criou na mídia
convencional de profissionais obrigados a seguirem os interesses dos seus
patrões. "Não é fácil a vida nas redações hoje em dia. Você tem que
reproduzir, apenas, os interesses dos donos. E essa rotina se torna patética
quando, além do mais, você é obrigado a fingir que são suas perguntas
elaboradas por gênios [como Augusto Nunes]", afirmou.
Nogueira criticou ainda o teor do questionamento elaborado
por Nunes e reproduzido por Nathalia, repleto de desinformação. "Se a
repórter, ou melhor, se Augusto Nunes lesse o básico sobre Cuba não cometeria
tal estupidez. Cuba tem múltiplos problemas, mas fome não é um deles. Prova disso
são os indicadores de saúde do país, entre os melhores do mundo. Nenhum país
faminto tem a expectativa de vida de Cuba, quase 80 anos para homens e 82 para
mulheres. Isso é bem mais que o Brasil, na casa dos 70, e mais até que os
Estados Unidos", concluiu.
Fonte: Brasil 247.













