Brasília - O uso unificado da "pílula do dia
seguinte" para aids começa a valer a partir desta quinta-feira, 24. Com a
publicação no Diário Oficial da União do novo protocolo de diretrizes
terapêuticas, todas as pessoas que tiverem enfrentado uma situação de risco
para o vírus HIV passam a ter acesso aos medicamentos antiaids em qualquer
serviço especializado.
A profilaxia pós-exposição, como o tratamento é
chamado, é indicado para todos que tiveram risco de contato com o vírus
causador da aids.
Isso pode acontecer tanto num acidente ocupacional,
como médicos ou enfermeiros que tiveram contato com sangue de paciente, quanto
com vítimas de violência sexual ou pessoas que tiveram relação sexual
desprotegida.
Para ter eficácia, no entanto, o tratamento, feito
ao longo de 28 dias, tem de ter início no máximo até 72 horas após a exposição
ao vírus. O ideal é que o ele seja iniciado nas primeiras duas horas após a
exposição.
O objetivo da nova estratégia é facilitar o acesso
e, principalmente, evitar a recusa de alguns serviços de fornecer a terapia,
eficaz para prevenção da doença. "Antes da mudança, havia o entendimento
incorreto de que um serviço especializado poderia atender apenas a um grupo
determinado", afirmou o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites
Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita.
Com isso, serviços que prestam atendimentos a
vítimas de violência, por exemplo, alegavam que só poderiam fornecer remédios
às mulheres ali atendidas. "A maior parte das recusas ocorria para pessoas
que recorriam ao serviços depois de manter relações sexuais
desprotegidas", completou Mesquita.
O Ministério da Saúde não tem estimativa de qual
será o impacto da mudança. Para facilitar o acesso aos serviços, o Ministério
vai lançar um aplicativo em dezembro com orientações sobre os postos mais
próximos de distribuição.
Além de centros de serviços especializados em
DST-Aids, em algumas cidades antirretrovirais são fornecidos também em unidades
de emergência. "Nos casos de serviços 24 horas, a distribuição de
medicamentos não é feita para 28 dias. Os serviços dão o suficiente para três
ou quatro dias de terapia e pedem que o paciente retorne, num segundo momento,
para pegar o restante."
A terapia começou a ser ofertada no Sistema Único de
Saúde nos anos 90, inicialmente para profissionais de saúde que tiveram contato
com materiais contaminados ou sob risco de contaminação.
Em 1998, a terapia foi estendida para vítimas de
violência sexual e, em 2011, passou a ser ofertada também a todos os que tiveram
uma relação sexual desprotegida.
Conferência
Mesquita, que está na Conferência Internacional de
Aids, em Vancouver, no Canadá, contou que neste ano o Brasil definirá a
estratégia para outra forma de prevenção à doença: o uso dos antiaids antes da
relação sexual desprotegida. Neste caso, em vez de "pílula do dia
seguinte", os remédios agiriam como uma "vacina".
Hoje, dois estudos estão em andamento, para
verificar a adesão de voluntários. "A eficácia da terapia pré-exposição
está comprovada. O que observamos é o comportamento de pacientes voluntários,
se eles mantêm o uso de remédios, se aprovam a estratégia", contou.
Resultados de estudo conduzido na Fiocruz foram animadores. A ideia é definir
se a estratégia pode ser incluída no programa brasileiro a partir de 2016.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.