Os franceses
têm uma frase para a investigação de crimes: “Procure a mulher.”
Você pode adaptá-la para o Brasil de hoje.
“Procure o dinheiro.” É o que você deve fazer caso queira entender o ódio
desumano da Veja pelo PT, expresso mais uma vez na capa desta semana.
Isso vale não apenas para a Veja, é bom acrescentar.
O jornalista Ricardo Kotscho, que fez parte da equipe de Lula
em seus primeiros tempos, conta uma história reveladora.
Roberto Civita queria uma audiência com Lula, algum tempo
depois de sua posse. E pediu a Kotscho que a arranjasse.
O objetivo não era discutir os rumos do Brasil e do mundo.
Era pedir dinheiro para o governo, na forma de anúncios.
Ou mais dinheiro.
As coisas não correram como Roberto esperava. As
consequências editoriais estão aí. Nem a morte de Roberto deteve a fúria
assassina da Veja.
É
um paradoxo. As mesmas empresas liberais que condenam o Estado são
visceralmente dependentes do dinheiro público que ele canaliza para elas.
Sem esse dinheiro, elas simplesmente não sobreviveriam.
Não é errado dizer que o Estado brasileiro financia as
grandes empresas jornalísticas. É, para elas, um Estado Babá.
Não é apenas dinheiro de anúncios, embora seja este o grosso.
Ele vem de outras formas.
Poucos anos atrás, quando ainda tinha resultados contábeis
expressivos, a Abril levou cerca de 25 milhões de reais do BNDES para uma obra
que deveria ter sido bancada por ela mesma, e não pelo contribuinte: um arranjo
em seu sistema de assinaturas.
É um dado público.
Parêntese: se na CPI do BNDES for aberto um capítulo para as
relações da mídia com o banco, teremos informações sensacionais.
Em 2009, quando a Veja já abdicara de qualquer honestidade no
ataque ao PT, a Abril levou 50 milhões de reais do governo de Lula apenas em
anúncios.
Por que tamanha revolta, então?
Mais uma vez: procure o dinheiro. A Globo estava levando, e
continua a levar, dez vezes mais, 500 milhões por ano.
Lula e Dilma, ironicamente, vem financiando a mídia que tenta
exterminá-los.
Tamanha
dependência leva a surtos de paranoia a cada eleição: e se a festa acabar?
E se o governo decide reduzir ao mínimo os investimentos publicitários que vão
dar nas corporações jornalísticas?
Seria
uma calamidade para essas empresas. Elas cresceram graças ao dinheiro público
posto nelas em proporções nababescas.
Note. Não é só o governo federal. Quantos recursos públicos
não são encaminhados para as companhias de jornalismo pelo governo de São
Paulo, o mais ricos do Brasil? De anúncios a compras de assinaturas, a mãozinha
amiga está sempre presente.
No futuro, estudiosos tentarão decifrar por que nem Lula e
nem Dilma mexeram adequadamente neste sistema que irriga recursos do
contribuinte para mãos e bolsos particulares.
Minha hipótese é: medo, medo e ainda medo.
Quando os dados se tornaram públicos, e começou a surgir aqui
e ali indignação, inventou-se uma coisa chamada “mídia técnica” para justificar
o injustificável.
Com isso, teoricamente estava explicado por que anualmente o
governo colocava 150 milhões de reais no SBT para terminar num jornalismo com
Sheherazades.
Mas era e é uma falácia. Governo nenhum é obrigado a colocar
dinheiro em empresa nenhuma, sobretudo quando há fundadas desconfianças sobre o
caráter dela e seu comprometimento com o bem estar público.
No caso específico da Abril, e da Veja, a questão do dinheiro
público se tornou especialmente dramática com a Era Digital e seu efeito
destruidor sobre a mídia impressa.
Um
governo amigo melhoraria extraordinariamente a
situação financeira da Abril. O declínio não seria estancado, porque é
impossível, mas seria mitigado.
A verba de anúncios federais cresceria instantaneamente.
Lotes gigantescos de assinaturas de revistas seriam comprados. Financiamentos a
juros maternais seriam obtidos.
É isso o que move a Abril — e, em medidas diferentes, as
demais grandes empresas jornalísticas.
Procure
o dinheiro, caso queira entender a sanha homicida delas, maldisfarçada num
moralismo cínico, demagógico e canalha, para não dizer criminoso.
Fonte: Diário do Centro do Mundo.













