A mídia
política não surpreende. É previsível como um jogo de sinuca comprado.
A entrevista de Dilma no Jô, por exemplo.
Você sabia, muito antes de ela ir ao ar, que só haveria cacetadas. Os textos, a
rigor, poderiam ser escritos sem que os jornalistas perdessem seu tempo
precioso vendo o programa.
Não importa o nível das perguntas de Jô e nem o conteúdo das
respostas. Só virão pedradas.
Um dos efeitos, não notados pelos jornalistas, é que você não
precisa lê-los para saber o que eles dirão.
Me chamou a atenção, particularmente, o blogueiro Josias de
Souza.
Em sua avaliação sobre a entrevista, ele acusou Dilma de ser
“autocongratulatória”.
Se eu fosse editor de Josias, perguntaria: “O que você
queria? Que ela atacasse a si própria, como se já não bastassem tantos caras
como você? Que ela elogiasse o Aécio?”
Na ânsia desvairada de atacar Dilma, perde-se a noção do
ridículo, como você percebe pelo artigo de Josias.
Ela falou o óbvio: não se pode falar em promessas
descumpridas quando você está apenas no começo de um mandato.
E então Josias replica: mas e os primeiros quatro anos? De
novo, caso eu o chefiasse: “Caramba, o povo acabou de fazer seu julgamento, nas
urnas, sobre se ela cumpriu ou não as promessas do primeiro mandato. Isso
apesar de uma multidão de jornalistas como você vociferarem contra ela o tempo
todo. Que mais você quer?”
Josias também criticou a entrevista por ser “amável”.
Ele não é exatamente um jornalista mirim, e deveria saber que
Dilma – e nem ninguém, incluído o próprio Josias – toparia dar uma entrevista
voluntariamente se houvesse o risco de receber tiros.
O DCM tentou entrevistar, para ficar num caso, Fernando
Rodrigues, colega de Josias no UOL, sobre o Swissleaks.
Estamos esperando resposta até hoje.
A entrevista, em si, foi boa. De um a dez, nota sete. Tanto
funcionou que, no horário, Jô teve um Ibope acima do habitual: 6,7 pontos, com
pico de 8,7. Jô deixou muito para trás Danilo Gentili, com 4,4%. Você pode
imaginar o que aconteceria caso Gentili tivesse batido Jô.
Dilma estava à vontade, e se saiu bem. Falou mais
pausadamente que de costume, se dispersou pouco nas respostas e quase não
cometeu erros no português.
Jô, cavalheirescamente, deixou-a falar. Interveio apenas
quando necessário.
Soube fazer perguntas que quase todos os jornalistas antes
dele ignoraram. Por exemplo: as leituras da Bíblia por Dilma na época da
prisão.
A Bíblia foi, muitas vezes, a única leitura possível para
ela. Dilma, com toda a razão, sublinhou a extraordinária riqueza literária da
Bíblia. (Dostoievski também só pode ler a Bíblia no tempo em que esteve preso,
registrado em Recordação da Casa dos Mortos.)
Jô tocou num ponto que desperta curiosidade em todo mundo:
como ela se sente diante das críticas ininterruptas?
Foi sábia a resposta de Dilma. Quem milita na política tem
que saber distinguir as coisas. Não pode levar críticas para o campo pessoal,
ou vive martirizado.
Jô citou sua própria dificuldade com críticas. Conheço bem,
aliás.
Escrevi, quando editava a Exame, um artigo sobre um romance
de Jô. Ele me telefonou tão logo saiu a revista, furioso.
A redação se juntou em torno de mim para acompanhar a
conversa tensa que tivemos. Lembro que ele disse que na França o romance tinha
sido elogiado. “E daí?”, respondi.
Também recordo que ele disse: “Sou amigo do Roberto Civita.”
E eu, de novo: “E daí?”
Dilma também se saiu bem quando perguntada se tinha pavio
curto. Ironicamente, disse que é uma “mulher dura no meio de homens meigos”.
Dilma deveria conceder mais entrevistas. Mas não a
jornalistas como Josias e tantos outros, interessados apenas em destruí-la
porque pensam assim agradar seus patrões.
Fonte:
Diário
do Centro do Mundo.












