Ex-porta-voz
da agência das Nações Unidas para refugiados, a jornalista italiana Laura
Boldrini deixou o cargo, há dois anos e meio, para disputar as eleições para a
Câmara dos Deputados de seu país pela primeira vez. Bem-sucedida, ela assumiu a
presidência da Casa logo no segundo dia da abertura dos trabalhos do
Legislativo. Recebida na quinta-feira em Brasília por autoridades como o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ela falou da experiência recente
de reformas políticas na Itália, e se mostrou nada satisfeita. Hoje, ela chega
a São Paulo para uma visita à Assembleia Legislativa, à prefeitura da capital e
ainda terá um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como foi a conversa com Eduardo Cunha?
Tivemos
um diálogo muito interessante sobre as reformas políticas que os dois países
estão enfrentando. Ele se mostrou interessado em conhecer a reforma do Senado
italiano. E conversamos sobre os aspectos negativos e positivos do
financiamento de campanhas. Nós tínhamos financiamento público, que foi deixado
para trás sob pressão da opinião pública, que não aceita o gasto com os
partidos. Entramos em um novo sistema de financiamento privado que me preocupa.
Há algumas incógnitas. Quem financia a política não o faz por caridade. Faz
porque tem interesses.
Que reformas políticas estão em curso na
Itália?
Estamos
saindo do sistema bicameral perfeito, paritário, para chegar a uma única Casa,
que dará sustentação ao governo. Já o Senado se tornará a Casa dos entes
administrativos locais (estados) e terá competências específicas. Os senadores
serão escolhidos entre deputados estaduais e prefeitos. E não receberão
salário. Na Europa em geral, e na Itália em particular, estamos vivendo um
momento em que os cidadãos criticam muito a política. Estão muito desiludidos,
bravos. Hoje, o mundo político precisa demonstrar que pode mudar e melhorar a
política. Ser mais transparente, mais humilde e gastar menos para voltar a ser
respeitado pela opinião pública. A política é o espelho da sociedade. Se há
problema de corrupção na política, significa que também há na sociedade.
Por que quis ser deputada?
Entrei
na política porque eu também era uma indignada. Pediram que eu me candidatasse
e pensei que era um dever meu, para que houvesse mudança na classe política. No
atual Parlamento da Itália, 60% dos deputados estão em seu primeiro mandato,
exatamente como eu, e 30% são mulheres. Temos uma grande responsabilidade. Não
podemos mais desiludir a população. Precisamos mudar.
Fonte: Diário do Centro do Mundo.













