Até
ontem considerado foragido, o policial federal afastado Jayme Alves de Oliveira
Filho, o 'Careca', prestou depoimento à Justiça Federal no Paraná e sugeriu ter
sido coagido a falar. Seu depoimento confirma o uso de prisão pelo juiz Sérgio
Moro para força as delações premiadas da Operação Lava Jato. De acordo com
'Careca', em meio aos seus depoimentos no ano passado, teve contato com o
doleiro Alberto Youssef, que o teria ajudado a "lembrar" dos lugares
onde esteve.
"O delegado falou que se eu não prestasse alguma
colaboração, iria ficar preso até a audiência, que era o que estava
acontecendo. Era praxe. Aí eu falei. Não tinha a menor intenção de ficar preso
ali. Eu estava transtornado", relatou. Segundo ele, o delegado Marcio
Anselmo disse que "Alberto [Youssef] vai lhe ajudar a fornecer os nomes e
tal". "[O delegado] Me forneceu uma carga de caneta, um pedaço de
papel (...). Minha cela era ao lado da dele [de Youssef]. Ele falou, 'olha,
endereço tal era fulano, era beltrano, sicrano e tal'. E eu fui anotando aquilo
mecanicamente", continuou.
Os trechos do depoimento foram publicados pelo jornal Valor
Econômico. No ano passado, o policial citou os nomes do deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), presidente da Câmara, e do ex-governador de Minas Gerais Antonio Anastasia,
do PSDB, como beneficiários do esquema investigado pela Lava Jato. Ele então
foi solto pelo juiz Sérgio Moro e depois passou a ser considerado fugitivo pela
Polícia Federal. Sua aparição depois disso foi no depoimento de ontem em
Curitiba.
Leia mais na reportagem da Agência Brasil:
Lava Jato: policial federal investigado diz que teve contato com
Youssef
André
Richter - O policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como
Careca, investigado na Operação Lava Jato, disse hoje (4), em depoimento
prestado à Justiça Federal em Curitiba, que teve contato com o doleiro Alberto
Youssef durante os depoimentos que prestou à Polícia Federal (PF), no ano
passado, quando foi preso. Segundo o policial, antes dos depoimentos, Youssef
ajudou a "lembrar" em quais locais ele esteve.
Ao juiz federal Sérgio Moro, o policial, que entregava
propina a mando do doleiro, afirmou que teve contato com Youssef durante o
período em que também ficou preso na Superintendência da PF em Curitiba.
Segundo ele, as celas de ambos ficavam lado a lado.
Ao ser questionado pelo juiz se Youssef ditou o depoimento no
qual ele citou políticos que teriam recebido propina a mando do doleiro, o
investigado respondeu: "Se eu estava com ele [Youssef]. Eu desci na cela
com ele. Eu desci lá e ele me passou em tal lugar, foi isso, aquele hotel era
de fulano", disse.
Durante o depoimento, o policial afirmou várias vezes que não
se lembrava dos termos exatos do depoimento à PF. Ao ser questionado novamente
pelo juiz, Alves declarou: "Excelência, isso aí [depoimento a PF] foi dito
por mim. Alguma coisa foi pelo Alberto".
Apesar de confirmar algumas entregas de dinheiro, o policial
disse que não tinha conhecimento do conteúdo dos pacotes. Ao ser confrontado
com uma planilha apreendida com Youssef na qual o nome dele aparece, o
investigado disse que não se lembrava de todos os pagamentos.
"Eu declarei [ no depoimento] porque eu iria declarar
tudo que ele [Youssef] me falasse. Qualquer coisa que me falasse, eu iria
declarar. Minha finalidade era sair de lá [prisão], não estava aguentando
aquilo. Na minha concepção, eu não tinha por que estar ali. Eu não sabia da
ilicitude", declarou.
Ao responder a uma pergunta feita pela defesa de Youssef, que
estava presente na audiência, o policial esclareceu que o doleiro, apesar de
ajudar a recordar os fatos, não pediu para ele mentir ou "inventar
história" para sair da prisão.
Com base no depoimento de Jayme Alves à Policia Federal no
ano passado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu abertura de
inquérito contra o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) e contra o presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O pedido foi aceito em março
pelo ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava Jato no Supremo
Tribunal Federal (STF).
Além de ser réu em uma das ações penais oriundas da Lava
Jato, o policial federal foi afastado, no ano passado, do cargo por decisão do
juiz Sérgio Moro. Ele não assinou acordo de delação premiada.
Fonte:
Brasil
247.