O jornal O Globo, dos irmãos Marinho, retomou, em sua edição desta
segunda-feira, o espírito de 1964, ao destacar, em sua capa, que a democracia
brasileira viveu, neste domingo, uma nova apoteose.
Na chamada de capa, o jornal
"informa" que milhões foram às ruas "em defesa da
democracia", numa marcha marcada por discursos de ódio, preconceito,
pedidos de intervenção militar e gritos de negação da política.
Isso revela que, de 1964 até
hoje, o Globo pouco mudou. No dia 2 de abril de 1964, um dia após o golpe militar
que atirou o Brasil na escuridão por 21 anos, o jornal dos Marinho bradou:
'ressurge a democracia'. Mais: pediu ainda que 'sejamos dignos de tão grande
favor'.
Leia abaixo:
O GLOBO Rio Janeiro, 02 de abril de 1964
RESSURGE A DEMOCRACIA
Vive a Nação dias gloriosos. Por que
souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações
políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é
essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das
Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos
que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do
Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua
vocação e tradições. Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não
poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da
desordem.
Em nome da legalidade, não seria legítimo
admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.
Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que
o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos
individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que
o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de
tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo. Poderemos, desde
hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos
problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com
má-fé, demagogia e insensatez. Salvos da comunização que celeremente se
preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os
protegeram de seus inimigos.
Devemos felicitar-nos porque as Forças
Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria
e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua
relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles
poderes, o Executivo. As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna: são
instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina,
sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.
No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a
hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a
Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o
direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as
condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações
militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube
vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.
Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso,
impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo
Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a
Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava
reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.
Este não foi um movimento partidário. Dele
participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a
ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais
ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo
intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no
Brasil que estava em jogo. A esses líderes civis devemos, igualmente, externar
a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da
palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e
do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia
que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e
o progresso do País.
Se os banidos, para intrigarem os brasileiros
com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão
mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que
não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente,
as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e
harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência
Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto.
Sejamos dignos de tão grande favor.
Fonte:
Brasil
247.