O
presidente da CPI da Sabesp, Laércio Benko (PHS), tem 41 anos, é advogado
especialista em Direito Tributário, atuou no Partido Verde (PV) e foi
vice-presidente da legenda durante a campanha de Marina Silva à presidência.
Após a derrota de Marina, filiou-se ao PHS. É umbandista há
oito anos por conta de sua mãe e defende a liberdade religiosa entre políticos.
Conversamos com ele sobre a crise hídrica em São Paulo e a atuação do governo
na Sabesp.
A CPI tem chances de dar resultado?
A CPI fez pelo menos 200 requerimentos, entre Sabesp, ARSESP
(Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo), Agência
Nacional de Águas (ANA), Prefeitura de São Paulo e Ministério Público. Ou seja,
nós temos um trabalho documental grande e vamos terminar no dia 28 de maio com
um relatório útil para identificar problemas, apontar responsáveis, para que
isso que está acontecendo seja minimizado e nunca mais volte a acontecer.
Vocês estão lidando com que tipos de
denúncias?
Temos várias denúncias protocoladas no MP ou dirigidas
diretamente para a gente, de todos os tipos. Elas variam muito, de vazamentos
até esgoto clandestino. Há quem fale que a própria Sabesp despejou dejetos na
represa do Guarapiranga através de uma estação elevatória de esgoto que não
funciona direito. Condomínios populares ilegais instalados na beira de represa
e também moradores que recebem ar no lugar da própria água. E eles são cobrados
financeiramente pelo ar. Essas são alguns fatos que se tornam queixas à Sabesp
diante da comissão.
Como está a questão do vazamentos de água,
alvo de denúncias pesadas?
O percentual de 30% de perdas é o mesmo desde 2004, há 10
anos. Dentro deste número, 20% escapam por vazamentos e 10% por furtos. A
Sabesp não investiu nas perdas, porque para eles ficava mais caro consertar do
que deixar vazar. Ou seja, se tratou água como um produto, não como um bem
estratégico. Nós vimos pela imprensa que o Japão tem 2% de perdas hídricas e
eles querem diminuir mais ainda. Aqui nós temos 30% e a Sabesp não quis
esvaziar o bolso dos acionistas em Nova York e deixou esvaziar o reservatório
da Cantareira.
A situação deve permanecer assim por muito
tempo?
Estou otimista quanto ao trabalho da comissão porque acredito
que a crise será prolongada. Infelizmente viveremos tempos difíceis nos
próximos dois ou três anos. Isso fará com que todas as autoridades se envolvam
com o problema. O envolvimento será profundo para que isso nunca mais volte a
acontecer.
Pensando na participação privada e na gestão
do governo do estado dentro da Sabesp, de quem foi a maior culpa neste perigo
de colapso?
Esse problema foi uma soma de todos os fatores, públicos e
corporativos. Eu, pessoalmente, jamais privatizaria a Sabesp e jamais abriria
ações dela na bolsa de valores. Não tenho nada contra isso, e sou favorável a
participação da livre-iniciativa em vários setores. Mas água é a área mais
estratégica de qualquer Estado. Se você quer acabar com o país, acabe com a sua
água. Isso não pode ser objeto de especulação financeira ou lucro. A água faz
parte da nossa sobrevivência. Foi um desvio de conduta o que foi feito com a
Sabesp, além do governador Geraldo Alckmin tentando passar uma falsa sensação
de segurança em 2014.
Você acredita que o problema da Sabesp é a
gestão do PSDB?
Não vejo tanta diferença entre o PT e o PSDB. A corrupção da
Sabesp chega a ser comparável com a da Petrobras. Acho que, se um partido
estivesse no lugar do outro, ainda assim teríamos problemas. É tudo a mesma
coisa.
Fonte: Diário do Centro do Mundo.