Em
sua cidade, a paraense Novo Progresso, diz-se que Ezequiel Antônio Castanha
mandava mais do que o prefeito. Empresário da região incrustada na Amazônia,
ele era dono de supermercado, concessionária de automóveis, hotel e empresas de
outros ramos. E, apesar de despertar suspeitas, o silêncio sobre seus negócios
ilícitos imperava entre moradores.
Castanha, considerado o maior desmatador da Amazônia, foi
preso no sábado (21/02) após uma operação da Polícia Federal e do Ibama na
cidade de Itaituba, onde estava a negócios. A prisão do grileiro desarticulou a
maior organização criminosa da região, que chegou a vender lotes de terra
ilegalmente por até 20 milhões de reais.
“Nessa região, alguns cidadãos como ele, que possuem várias
empresas, não são pessoas acima de qualquer suspeita”, diz Everaldo Eguchi,
chefe da delegacia de repreensão a crimes contra o meio ambiente da Polícia
Federal, em Belém. “Mesmo assim, os moradores não comentavam nada. Praticamente
ele era o dono da cidade.”
Ele e suas empresas – muitas delas de fachada, segundo a
polícia – são as principais fontes de emprego da região. Economicamente,
Castanha dominava Novo Progresso, cidade de cerca de 25 mil habitantes. Por
isso, parte da população preferia não denunciá-lo.
“A lei do silêncio imperava. Ele não era acima de qualquer
suspeita. Quando ocorre esse tipo de crime, todos da região sabem quem está por
trás. É um crime lucrativo que tem um retorno rápido para a pessoa. Ele investia
em fazendas esse dinheiro obtido de forma irregular”, afirmou uma fonte do
Ibama.
Empregados em condições de escravidão
Castanha e sua quadrilha são considerados responsáveis por
cerca de 20% de todo o desmatamento registrado às margens da BR-163 (rodovia
que liga Santarém a Cuiabá), entre os municípios paraenses de Novo Progresso,
Itaituba e Altamira. A região é onde o Ibama vem detectando os maiores focos de
desmatamento ilegal na Amazônia. O prejuízo ambiental seria de pelo menos 540
milhões de reais.
Só no ano passado, a quadrilha teria invadido florestas,
reservas indígenas, assentamentos e desmatado uma área equivalente a 15 mil
campos de futebol. Pelo fato de os grileiros estarem na região há mais de dez
anos, é possível que a área devastada seja muito maior. O grupo, segundo as
investigações, invadia terras públicas, desmatava e incendiava as áreas para
formação de pastos, e depois vendia as terras como fazenda.
Na região, a falta de organização e fiscalização dos órgãos
públicos facilita a vida de quadrilhas como a de Castanha. Na Amazônia, a
maioria das terras não tem registro em órgão público, e não há procedimento
para legalização de um terreno.
Pelo menos 15,5 mil hectares teriam sido desmatados pela
quadrilha. Todas as áreas invadidas ficarão bloqueadas e não serão objeto de
regularização fundiária. O esquema desmontado pela Polícia Federal envolvia
intermediários, que faziam a negociação das terras invadidas junto a
pecuaristas da região amazônica, além de Sul e Sudeste do país.
“Pelo menos desde 2006, ele tinha essa conduta. Ele aliciava
trabalhadores com condições análogas à escravidão e os colocava acampados nas
áreas escolhidas. O objetivo era ‘abrir’ a floresta o mais rápido possível”,
afirma Daniel Azeredo, procurador da República, em entrevista à DW. “Dois ou
três anos depois, com a área já pronta, ele usava os corretores para
comercializarem as áreas.”
Pena de 46 anos de prisão
O esquema desviou ao menos 100 milhões de reais em sonegação
de impostos e lavagem de dinheiro. Só de multas, o núcleo familiar de Castanha
deve quase 50 milhões de reais ao Ibama, sem contar os autos de infração em
nome dos demais membros da quadrilha.
Castanha foi preso seis meses depois do fim da Operação
Castanheira, quando outras seis pessoas foram detidas. Integrante da quadrilha,
Edivaldo Dalla Riva, conhecido como “Paraguaio”, também está na cadeia. Já
Giovani Marcelino Pascoal, o “Giovani do Hotel Miranda”, que também teve a
prisão decretada, segue foragido.
Em declaração à TV Globo, o advogado de Castanha, Alberto
Vila Cabano, disse que o empresário está sendo vítima de acusações infundadas e
que vai provar a inocência no decorrer do processo.
O “rei do desmatamento” será julgado pela Justiça Federal e
poderá receber pena de mais de 46 anos de prisão pelos crimes dos quais é
acusado, como devastação ilegal de mata, formação de quadrilha, lavagem de
dinheiro e uso de documentos falsos.
Fonte:
Diário
do Centro do Mundo.