O que acontece
quando um jornalista acredita na Veja e é formado pela Globo?
Bem, são grandes as chances de ele se tornar Erick Bretas.
Bretas, que ocupou diversas posições de destaque no
telejornalismo da Globo e hoje é seu diretor de Mídias Digitais, fez ontem uma
coisa que desafia a capacidade de compreensão.
Defendeu, no Facebook, a cassação de 54 milhões de votos
dados há menos de cinco meses para Dilma.
Ele acha que Dilma deve ser objeto de impeachment. E fez
questão de avisar que estará na manifestação pela queda do governo eleito em 15
de março.
Uma jornalista da grande mídia, extremamente incomodada com a
fanfarronice de Bretas, foi quem me avisou.
Eu jamais ouvira falar dele, e lamento tê-lo conhecido. Mas
não me surpreendo.
É uma oportunidade de as pessoas saberem como é feito o
jornalismo da Globo, para além dos comentaristas e apresentadores que estão na
tela.
Atrás deles, há coisa igual ou pior, como Bretas.
Ele foi diretor executivo de jornalismo da TV Globo, cargo no
qual foi substituído pela jornalista Sílvia Faria, celebrizada por ter mandado
tirar o nome de FHC do noticiário da Lava Jato.
Você lê Bretas e descobre por que o jornalismo da Globo é o
que é.
Ele cita a Veja, publicação sem nenhum compromisso com a
verdade há muitos anos, como um muçulmano se refere ao Corão.
Isso o faria um analfabeto político, apenas, não fosse a
posição que ocupa na Globo.
Imagine a forma como ele editou as reportagens quando ocupou
posições de chefia na emissora. Agora pense no que esperam os consumidores do
jornalismo digital da Globo sob seu comando.
E o fato é que Bretas é um na multidão dentro da Globo.
Fica claro, lendo o seu bestialógico, por que a Globo
escondeu o helicóptero com meia tonelada de pasta de cocaína descoberto no
helicóptero de um amigo fraternal de Aécio.
Também ficou evidente por que o aeroporto de Cláudio não
mereceu uma cobertura minimamente decente da Globo.
Com editores como Bretas, como esperar que a Globo fosse
tratar como deveria o espetacular caso das contas secretas do HSBC?
Isso só vai virar assunto se aparecer, na lista das contas,
alguém ligado ao governo. Desde que, naturalmente, nela não figure alguém da
família Marinho.
Bretas é uma aberração jornalística, e uma tragédia para o
jornalismo brasileiro. Dado o alcance da Globo, e seu poder de manipulação, é
uma ameaça à sociedade. Quantos cidadãos ingênuos não são deformados pelo
trabalho de jornalistas como ele?
Pessoalmente, gostaria de saber se sua indignação não se
estende à sonegação multimilionária de sua empresa.
Também queria saber, imaginando que ele seja um advogado do
livre mercado, sua opinião sobre a reserva que ainda hoje beneficia a Globo e
demais empresas jornalísticas.
Talvez fosse bom também ouvi-lo sobre o Mensalão eterno da
Globo – o dinheiro público em doses colossais que acorre à empresa por meio de
publicidade federal.
Sem esse dinheiro, coisa de meio bilhão ao ano de reais
apenas do governo federal (sem contar os estaduais), a Globo, tal como
conhecemos, verga e quebra. E Bretas, o homem que quer cassar Dilma, perde sua
boquinha.
Ele avisa, num tom estranhamente solene, que vai para a rua
em 15 de março — não como um reporter para cobrir o protesto, ou mesmo como um
editor para observar as coisas, mas como o que de fato é: um militante de
direita fantasiado de jornalista.
Fonte: Diário do Centro do Mundo.