segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Entrevista na integra do Prefeito de Sobral ao IG: “Rompemos o mito de que os pobres não conseguem aprender”.

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             À frente da administração de Sobral, no interior do Ceará, o prefeito  José Clodoveu de Arruda Coelho Neto, o Veveu, hoje é encarregado de dar continuidade a mudanças na rede municipal de ensino iniciadas ainda na gestão do hoje no ministro da Educação, Cid Gomes. Com o Ideb das escolas municipais em 7,8 nas quarta e quinta séries, ele afirma que só é possível fazer uma mudança real no sistema de ensino contrariando a cultura do fisiologismo político.
              “Nós rompemos o mito de que pessoas pobres, em regiões pobres, não conseguem aprender”, diz Veveu. “Tem que superar a cultura do privilégio, senão não adianta.” Confira os principais trechos da conversa com o Poder Online:

Qual balanço o senhor faz dos resultados que foram alcançados em Sobral desde o início da gestão de Cid Gomes? 
                

               O balanço é positivo, mas nossa missão ainda não está cumprida. A cada ano, mês, semana, precisamos manter o que conseguimos melhorar e dar continuidade ao que temos de inovação. Mas, basicamente, colhemos os frutos de três estratégias. Primeiro, estabelecemos um foco na aprendizagem, com a qualificação de todos os serviços relacionados à escola – treinamos até mesmo o merendeiro – e com um esforço para manter o aluno na escola. Aqui derrubamos os índices de evasão a quase zero. Em segundo lugar, valorização do magistério. O novo piso salarial anunciado pelo ministro Cid, por exemplo, já é praticado aqui. A isso, se soma formação profissional constante. E fazemos um trabalho permanente para melhorar a infraestrutura da escola, desde a construção dos prédios até a oferta de acesso à internet, passando pela escola em tempo integral.

Nesse caso específico da escola integral, qual é o desafio de fazer um projeto desses andar? 
            

                  Nós conseguimos um avanço importante na implantação das escolas em tempo integral. Mas é um aumento de custo importante em relação ao modelo convencional. E o problema é que os recursos que recebemos do Fundeb para essas escolas é só 20% superior, não cobre as despesas adicionais que temos. Mas faz diferença. Nas nossas escolas de tempo integral, por exemplo, nós aumentamos a carga horária de disciplinas como matemática, português e outras, mas não só isso. Criamos, por exemplo, a disciplina de Projeto de Vida. Desde pequenas, essas crianças começam a desenvolver um projeto para o futuro, que vai sendo adaptado conforme sua evolução na rede escolar. A isso, nossa ideia é somar o ensino especializado. Sempre com participação da família. Eu sempre digo que nenhum professor ou diretor de escola substitui pai e mãe.
O senhor acha que é viável aplicar iniciativas como essas em escala nacional?   
             

                     É perfeitamente possível. O mapa do Brasil é grande, mas ele é formado por partes, que em última escala são os municípios. Nós rompemos o mito de que pessoas pobres, em regiões pobres, não conseguem aprender. Sobral está inserido num estado pobre, que responde por menos de 2% do PIB nacional. Temos alunos que vivem na extrema pobreza que se destacam na nossa rede. É uma questão de decisão política, de vontade de incluir essas pessoas nas políticas públicas. Essas pessoas estão aprendendo e contribuindo para que tenhamos um dos melhores Idebs do Brasil. E não estamos falando de um diretor que teve uma experiência diferente na sua escola. É uma política pública.

O que falta então para essa decisão? 
            

              Aqui, nós temos muitas dificuldades na esfera política. Isso porque, para aplicar essa estratégia, foi preciso fazer uma opção. Quando tudo começou, tínhamos na cidade um diretor de uma escola que era analfabeto. Que recebia o contra-cheque dele com o polegar. Mas era apadrinhado de um político local. O conceito de “Pátria Educadora”, de “Cidade Educadora” – Sobral hoje é uma “Cidade Educadora” – só funciona se houver uma decisão de enfrentar o fisiologismo e a politicagem. Tem que superar a cultura do privilégio, senão não adianta.

O governo federal fala em uma ação coordenada de vários ministérios…
          

                 Se não for assim, não funciona. Não adianta melhorar só o ensino. É preciso olhar a criança como um todo. Ela tem que estar em boa saúde, tem que morar bem, ter acesso à cultura, à informação. A meta da minha gestão, por exemplo, é chegar ao fim do mandato com 80% da cidade saneada. Também é preciso estimular emprego e renda, para os pais dessas crianças. Tem que ser uma ação intersetorial.


Fonte: IG.
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