À frente da administração de Sobral, no interior do Ceará, o prefeito
José Clodoveu de Arruda Coelho Neto, o Veveu, hoje é encarregado de dar
continuidade a mudanças na rede municipal de ensino iniciadas ainda na gestão
do hoje no ministro da Educação, Cid Gomes. Com o Ideb das escolas municipais
em 7,8 nas quarta e quinta séries, ele afirma que só é possível fazer uma
mudança real no sistema de ensino contrariando a cultura do fisiologismo
político.
“Nós rompemos o mito de que
pessoas pobres, em regiões pobres, não conseguem aprender”, diz Veveu. “Tem que
superar a cultura do privilégio, senão não adianta.” Confira os principais
trechos da conversa com o Poder Online:
Qual balanço o senhor faz dos
resultados que foram alcançados em Sobral desde o início da gestão de Cid
Gomes?
O balanço é positivo, mas nossa
missão ainda não está cumprida. A cada ano, mês, semana, precisamos manter o
que conseguimos melhorar e dar continuidade ao que temos de inovação. Mas,
basicamente, colhemos os frutos de três estratégias. Primeiro, estabelecemos um
foco na aprendizagem, com a qualificação de todos os serviços relacionados à
escola – treinamos até mesmo o merendeiro – e com um esforço para manter o aluno
na escola. Aqui derrubamos os índices de evasão a quase zero. Em segundo lugar,
valorização do magistério. O novo piso salarial anunciado pelo ministro Cid,
por exemplo, já é praticado aqui. A isso, se soma formação profissional
constante. E fazemos um trabalho permanente para melhorar a infraestrutura da
escola, desde a construção dos prédios até a oferta de acesso à internet,
passando pela escola em tempo integral.
Nesse caso específico da escola integral, qual é o desafio de
fazer um projeto desses andar?
Nós conseguimos um avanço importante na
implantação das escolas em tempo integral. Mas é um aumento de custo importante
em relação ao modelo convencional. E o problema é que os recursos que recebemos
do Fundeb para essas escolas é só 20% superior, não cobre as despesas
adicionais que temos. Mas faz diferença. Nas nossas escolas de tempo integral,
por exemplo, nós aumentamos a carga horária de disciplinas como matemática,
português e outras, mas não só isso. Criamos, por exemplo, a disciplina de
Projeto de Vida. Desde pequenas, essas crianças começam a desenvolver um
projeto para o futuro, que vai sendo adaptado conforme sua evolução na rede
escolar. A isso, nossa ideia é somar o ensino especializado. Sempre com
participação da família. Eu sempre digo que nenhum professor ou diretor de
escola substitui pai e mãe.
O senhor acha que é viável
aplicar iniciativas como essas em escala nacional?
É perfeitamente possível. O mapa do Brasil é
grande, mas ele é formado por partes, que em última escala são os municípios.
Nós rompemos o mito de que pessoas pobres, em regiões pobres, não conseguem
aprender. Sobral está inserido num estado pobre, que responde por menos de 2%
do PIB nacional. Temos alunos que vivem na extrema pobreza que se destacam na
nossa rede. É uma questão de decisão política, de vontade de incluir essas
pessoas nas políticas públicas. Essas pessoas estão aprendendo e contribuindo
para que tenhamos um dos melhores Idebs do Brasil. E não estamos falando de um
diretor que teve uma experiência diferente na sua escola. É uma política
pública.
O que falta então para essa
decisão?
Aqui, nós temos muitas
dificuldades na esfera política. Isso porque, para aplicar essa estratégia, foi
preciso fazer uma opção. Quando tudo começou, tínhamos na cidade um diretor de
uma escola que era analfabeto. Que recebia o contra-cheque dele com o polegar.
Mas era apadrinhado de um político local. O conceito de “Pátria Educadora”, de
“Cidade Educadora” – Sobral hoje é uma “Cidade Educadora” – só funciona se
houver uma decisão de enfrentar o fisiologismo e a politicagem. Tem que superar
a cultura do privilégio, senão não adianta.
O governo federal fala em uma
ação coordenada de vários ministérios…
Se não for assim, não funciona. Não adianta
melhorar só o ensino. É preciso olhar a criança como um todo. Ela tem que estar
em boa saúde, tem que morar bem, ter acesso à cultura, à informação. A meta da
minha gestão, por exemplo, é chegar ao fim do mandato com 80% da cidade
saneada. Também é preciso estimular emprego e renda, para os pais dessas
crianças. Tem que ser uma ação intersetorial.
Fonte: IG.