Governo eleito
volta a defender CPMF e construção de uma nova base aliada.
Em
entrevista ao jornal O Globo deste domingo (7), o governador eleito do Ceará,
Camilo Santana (PT), voltou a defender temas como a volta da CPMF para
financiar a Saúde, a revisão da relação do governo com o PMDB e a construção de
uma nova base aliada.
Camilo
descartou a participação do PMDB em seu governo e ao seu questionado sobre a
influência dos Ferreira Gomes em seu governo, diz que tem admiração por eles.
Leia a
entrevista na íntegra:
Que lição o senhor tira das
urnas após as eleições de 2014?
É
preciso fazer uma avaliação do resultado das urnas, tendo em vista que foi uma
eleição apertada. Mas eu defendo que temos de fortalecer o nosso governo, pois
o principal cargo do governo, a Presidência da República, é do nosso partido. O
importante é que as mudanças que o país precisa sejam implementadas e sejam
aprofundadas, como foi o lema da campanha (de Dilma).
O maior desafio do PT,
apontado na reunião do Diretório Nacional, em Fortaleza, está em criar
condições para que a presidente Dilma Rousseff possa fazer um segundo mandato
melhor que o primeiro. Como dialogar com um Congresso mais conservador?
Eu
acho que a presidente Dilma tem um papel importante no PT. E os dirigentes, que
fazem a relação política do governo, têm o papel de construir uma nova base de
aliados no Congresso.
É o
que eu defendo: rever essa relação da base aliada do governo. Até porque o
principal aliado tem sido o PMDB, mas, no momento em que o governo precisa, ou
no momento das eleições, a gente viu o quanto os candidatos do PMDB ficaram
contra a presidente.
Como se dariam essas
mudanças?
Acredito
que seja preciso mudar esta correlação de forças e essa relação com a base
aliada. Tem setores que defendem a construção de blocos, a fusão de alguns
partidos, a construção de frentes. Eu acho que hoje o governo trata o PMDB como
se ele tivesse mais força do que tem. Posso até ser ingênuo nessa defesa, mas
acredito que a relação tem que ser muito mais republicana do que simplesmente
em troca de espaço no governo.
O PMDB vai participar do seu
governo? Ocupará algum cargo?
Claro
que não!
Qual será a influência dos
Ferreira Gomes no seu governo?
Olha,
eu tenho uma admiração por eles, até porque poucos tiveram gestos como o de Cid
Gomes, para o PT e para a presidenta, que foi o de deixar um partido (o PSB) em
nome do projeto da presidente, da reeleição dela.
O PT aprovou resolução em
que determina a expulsão de corruptos do partido. O senhor acredita que essa
expulsão deva ser imediata, seja de mensaleiros ou de citados na Operação
Lava-Jato?
Não se
pode expulsar ninguém do partido sem cumprir o regimento e o estatuto. Existem
regras e normas. O que tem de ser muito claro para a sociedade é que o PT é um
partido que combate a corrupção, independentemente de quem esteja envolvido. Em
qualquer partido, (o corrupto) tem que ser punido. A determinação da presidenta
Dilma e do partido é que, neste governo, qualquer corrupção tem que ser
apurada, e as pessoas têm que ser punidas, independentemente de serem do PT ou
de qualquer outro partido. É isso que defendo.
O senhor defende a volta da
CPMF. Isso foi conversado com Dilma?
Eu
estou abrindo essa discussão novamente. Conversei com governadores petistas da
Bahia e do Piauí, que foram a favor. Conversei também com alguns deputados.
Vamos ter uma reunião, no dia 9, de todos os governadores eleitos no país, e eu
vou apresentar essa proposta. Eu não conversei com Dilma sobre isso, conversei
com o presidente do meu partido. Mas não tenho dúvida de que jamais a
presidenta Dilma seria contrária, pois acredito que a preocupação com a Saúde é
de todos no Brasil.
Por que o senhor defende a
volta da CPMF? De quem é a iniciativa?
Essa
foi uma iniciativa pessoal minha, pois acho que o Brasil precisa de uma fonte
de financiamento da Saúde, para aumentar os recursos nesta área. E a minha
preocupação é porque nós sabemos que 2015 será um ano talvez de dificuldades,
pela expectativa que se tem. Enquanto nós não temos o pré-sal para financiar
investimentos em Saúde e Educação, é importante pensarmos em novas fontes de
financiamento nesta área, a população tem cobrado isso.
Estudos indicam que a CPMF
tem efeito direto sobre as taxas de juros, e isso desestimula o crescimento econômico e reduz a base de
contribuição e arrecadação dos demais tributos.
Estou
preocupado com a Saúde, mas se tiver alguma argumentação de que vai ter
influência no crescimento do Brasil, vou procurar conhecer esse estudo. Defendo
que seja uma CPMF diferente. Ela deve ser exclusiva para a Saúde e deve ser
determinado o percentual para estados, municípios e União. E se não for a CPMF,
temos que defender um mecanismo de financiamento da Saúde pública no Brasil.
A escolha do Nordeste para a
reunião do Diretório Nacional do PT pode significar maior participação do
Nordeste no governo?
Não
necessariamente, pois eu acho que o importante é o projeto liderado por Dilma.
Mas, dos cinco governadores eleitos do PT, três são do Nordeste, e o Ceará tem
seu primeiro governador eleito do PT.
Fonte: Ceará News 7.