É o dinheiro, candidato! Quanto mais
o postulante a um cargo legislativo arrecada, maior a chance de ele conseguir o
que quer. Juntos, os cerca de 1,5 mil deputados federais, estaduais e
distritais e os senadores eleitos gastaram 29% mais que a soma das despesas dos
mais de 13 mil candidatos que não se elegeram. Os vencedores arrecadaram R$ 1,4
bilhão, ante R$ 1,1 bi dos derrotados. Na média, os eleitos gastaram 11 vezes
mais que os não eleitos.
A diferença entre o gasto médio de
vencedores e vencidos varia de cargo para cargo. A disputa financeira menos
desigual é no Senado. São menos candidatos – média de 4 por vaga – e os
partidos podem canalizar mais recursos para as candidaturas. Entre os
concorrentes a senador, a campanha dos eleitos custou 4,3 vezes mais que a dos
derrotados: R$ 4,9 milhões, em média, ante R$ 1,1 milhão para os que não irão a
Brasília.
Na eleição para a Câmara dos Deputados
é que o cofre pesa mais. Os 513 vencedores gastaram, em média, R$ 1,422 milhão
para se eleger, em um custo total de R$ 723 milhões. Já os milhares de
candidatos que ficaram pelo caminho gastaram, juntos, pouco mais de metade
disso. Na média, suas campanhas custaram 93% menos que a dos eleitos. Mesmo
assim, gastaram R$ 397 milhões.
O dinheiro faz tanta diferença na
eleição para deputado federal que há faixas de sucesso e de insucesso,
proporcionais a quanto o candidato gastou. Por exemplo: todos aqueles que
arrecadaram mais de R$ 5 milhões se elegeram. Foram dez, como Sergio Sveiter
(PSD-RJ), que angariou R$ 5,7 milhões para conquistar 57 mil votos, média de R$
99 por voto – a mais cara da nova Câmara.
Se o candidato à Câmara não puder
gastar tanto, mas quiser assumir um risco de não se eleger menor do que 10%,
ele terá de gastar entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões. Foram 59 os candidatos
que gastaram nessa faixa, dos quais 54 se elegeram. O que gastou menos nesse
grupo, Carlos Sampaio (PSDB-SP), declarou R$ 3 milhões. Entre os cinco que não
tiveram a mesma eficiência está, por exemplo, Newton Lima (PT-SP), que gastou R$
3,6 milhões mas não conseguiu voltar à Câmara.
Dos que gastaram mais de R$ 1
milhão e menos de R$ 3 milhões, 65% tiveram sucesso. Já entre os candidatos à
Câmara que arrecadaram menos de R$ 500 mil, apenas 3% conseguiram garantir o
mandato.
É claro que as chances de ser
eleito dependem não apenas dos votos do candidato, mas da soma de sufrágios de
sua coligação – e que isso varia de partido para partido e é diferente em cada
Estado. Por isso, não é possível afirmar que os valores desta eleição sejam uma
regra replicável em pleitos futuros.
Causalidade
Os dados tampouco provam o sentido
da correlação. Uma corrente da ciência política advoga que o fato de um
candidato já ser favorito facilita a arrecadação de recursos para sua campanha
e a torna mais rica. Mas a maioria dos pesquisadores concorda que o oposto é
mais determinante: mais dinheiro, mais votos.
Certo é que a regra não vale
igualmente para todos. Ao menos não com a mesma intensidade, lembra o professor
de ciência política da USP Bruno Speck. Especialista em financiamento
eleitoral, seus estudos mostram que o peso do dinheiro depende muito se o
candidato concorre à reeleição ou se ele é um novato.
Um parlamentar já larga com 60% de
chance de ser eleito, e aumenta essa probabilidade em função da quantidade de
recursos que consegue arrecadar. Já o novato parte com uma chance muito menor,
que beira a zero, e vai aumentando suas possibilidades na razão direta de
quanto ele consegue de doações. “Assim, o dinheiro alavanca mais o novato do
que o candidato à reeleição”, afirma.
Num artigo que Speck publicou
recentemente, a intensidade da associação entre dinheiro e desempenho eleitoral
depende do tipo de candidato, e é mais forte para os novatos, principalmente as
mulheres, e menos forte para os homens que já estão no cargo.
Mobilização
O dinheiro só pesa pouco para um
tipo de deputado: o que está inserido em redes sociais com interesses
homogêneos e que se mobilizam para eleger um representante por sua ideologia.
O voto mais barato da nova Câmara
foi o do pastor Marco Feliciano (PSC-SP), que representa os evangélicos, defende
valores sociais tradicionais e ganhou notoriedade ao presidir a Comissão de
Direitos Humanos da Câmara. Não por acaso, o segundo voto mais barato foi o de
seu antípoda, Jean Wyllys (PSOL-RJ), que defende o casamento gay e a
legalização da maconha. O custo do voto do primeiro foi de R$ 0,37 e o do
segundo, de R$ 0,47. Na média, seus futuros colegas gastaram R$ 12,60 por voto
para chegar à Câmara.
Fonte: Ceará News 7.













