Uma das
palavras da moda nestas eleições é “descontrução”.
Ela
tem sido usada pelos colunistas VPs, em tom de pretensa indignação, para
definir o que o PT teria feito com Marina, no primeiro turno, e Aécio, no
segundo.
Ah,
sim: entenda, por VPs, as Vozes dos Patrões.
Marina
é história. Tratemos da “desconstrução” de Aécio.
Desconstruir
implica torcer fatos, manipular informações, inventar coisas que prejudiquem
determinada pessoa.
Nada,
absolutamente nada disso foi feito com Aécio.
Examinemos
alguns dados da alegada “desconstrução”.
O
aeroporto de Cláudio, por exemplo. Ele existe, ele custou cerca de 12 milhões,
ele está situado num terreno que pertencia ao tio de Aécio e ele, embora
pretensamente público, era usado privadamente por Aécio e uns poucos.
Desde
que o caso apareceu, Aécio não conseguiu dar uma única explicação que fizesse
sentido. Porque não há como defender o que é moralmente indefensável.
Construir
o aeroporto de Cláudio acabou por desconstruir Aécio. Como quem construiu foi
ele, podemos dizer que ele se desconstruiu.
A
partir dali, falar em decência e em ética, pregar sobre o uso de dinheiro
público, bradar contra a corrupção – tudo isso soou farisaico, cínico,
mentiroso em Aécio.
Consideremos
agora os familiares e agregados empregados por Aécio. Para quem fala
compulsivamente em “meritocracia” e “aparelhamento”, praticar o nepotismo é
particularmente acintoso.
A
expressão maior do nepotismo de Aécio é sua irmã, Andrea Neves. Em seu governo
em Minas, Andrea controlou as verbas de publicidade, uma atividade vital para o
exercício de uma censura branca.
Você
premia, com dinheiro, quem dá boas notícias sobre você. Pune, fechando as
torneiras das verbas, quem faz jornalismo verdadeiro.
É
uma situação que desconstrói quem quer que esteja no comando dela. Quem deu
poderes a Andrea Neves? Foi Aécio. Não fui eu, não foi você, não foi o papa,
não foi FHC.
Logo,
também aqui, ele próprio se desconstruiu.
Não
deve ser subestimado um fato, neste capítulo, que agrava as coisas. A família
de Aécio tem pelo menos três rádios e um jornal em Minas, e para tudo isso foi
destinado dinheiro público em forma de publicidade.
É,
em si, uma indecência. Mas, para quem se apresente como guardião da moral, é
pior ainda.
Ainda
no capítulo do nepotismo, a trajetória de Aécio é o exato oposto da
“meritocracia” de que ele fala abusivamente.
Aos
17 anos, o pai deputado federal lhe deu um emprego na Câmara, em Brasília. Só
que, com esta idade, ele se mudara para o Rio para estudar.
Aos
25, um parente o nomeou diretor da Caixa Econômica Federal.
Isto
não é desconstrução: é verdade. É biografia real. A verdade só descontrói
quando o objeto dela fez coisas que merecem desconstrução.
Aécio
era uma desconstrução à espera do momento em que luzes clareassem as sombras
que sempre o acompanharam. Este momento veio quando ele se tornou candidato à
presidência.
Não
bastassem os fatos, em si, houve as atitudes nos debates. A grosseria primeiro
com Luciana Genro e depois com Dilma, o riso cínico e debochado: assim se
desconstruiu a imagem de “bom moço”.
Mas
de novo: Aécio não tem ninguém a quem culpar, também aí, senão a si próprio.
Aécio,
ao longo da campanha, promoveu uma minuciosa autodesconstrução.
Ganhou
a sociedade. Quem votar nele sabe em quem está votando.
Fonte:
Diário
do Centro do Mundo.