A menos de um mês da
eleição, o povo percorreu os cinco municípios com os mais baixos IDHS do Ceará.
Eleitores de Itatira, Araripe, Potengi, Granja e Salitre são descrentes do
poder do voto.
Com menos de um mês até a eleição,
maioria dos leitores já deve ter certa noção de como estão dispostas as peças
do jogo eleitoral deste ano. Alguns podem até ter o voto definido, com só uma
ou outra alteração pendente até outubro. Nas regiões mais pobres do Ceará, no
entanto, a campanha eleitoral ainda passa ao largo, sendo objeto de indiferença
entre quem mais precisa do poder público estadual.
Nas últimas semanas, O POVO percorreu os
cinco municípios com os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do
Ceará, onde constatou cenário de desesperança e descrédito com o poder do voto.
Seguindo dados do último Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, foram
visitados os municípios - em ordem decrescente de IDH - de Araripe, Potengi,
Itatira, Granja e Salitre.
São cidades que já eram pobres antes da
atual gestão e que, apesar de terem passado por grandes melhoras nos últimos
anos, dificilmente sairão da extrema pobreza sem ação direta do próximo
governador. Quando falta comida na mesa, água potável ou atendimento médico de
emergência, no entanto, escolher quem ditará os rumos do Estado acaba ficando
como última das prioridades.
Lagoa dos
Crioulos
“Antes das
eleições, vem muita gente aqui. Enchem as nossas ventas de folhas. Depois que
passa, fazem é jogar o carro por cima da gente na estrada”, diz a agricultora
Rosimeire do Nascimento, 29. Ela mora junto com cerca de outras 15 famílias na
Lagoa dos Crioulos, distrito de Salitre, município com o mais baixo IDH do
Ceará - 0,540.
Aprendendo
a contar apenas um com os outros, os moradores da região não souberam da
morte de Eduardo Campos (PSB), não conhecem Marina Silva (PSB) e nem
acompanharam acirramento entre os ex-aliados Eunício Oliveira (PMDB) e Cid
Gomes (Pros) no Ceará.
“Não tem comida, água, emprego e o
hospital mais perto é no Crato (a 140km de Salitre). Não há quem acredite que
votar muda alguma coisa”, diz Marta Santos, 22. Assim como ela e Rosimeire, as
famílias sobrevivem - “quando a seca deixa” - da colheita de mandioca e do
cartão do Bolsa Família. “Uma benção, senão não tinha nem o que comer”, diz
Marta.
Nas casas da região, sobram histórias e
retratos de parentes que partiram precocemente. Francisco de Assis, 34, morreu
depois de passar o dia anterior todo na roça. “Acordou passando mal e pediu que
eu esquentasse sopa. Quando fui ver, tava com a boca cheia de sangue”, diz
Rosana de Lima, 34. Ela conta que chegou a remeter Francisco para o Crato, mas
não teve jeito. Ele deixou Rosana e a filha de dez anos.
“Eu não sou nem burra. Só vou votar agora
em quem me der alguma coisa”, desabafa Rosana. “Se der ao menos um quilo de
feijão, já dá para votar”, completa Marta.
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Fonte:
O Povo.