Em discussão na Câmara de Rio Grande (RS) acerca da
reserva de 20% de vagas para pessoas autodeclaradas negras ou pardas a fim de
ingressarem no serviço público municipal, o vereador Wilson B. Duarte da Silva
(PMDB) constrangeu boa parte do público presente. De acordo com o parlamentar,
"os negros querem se favorecer, isso que é racismo, afinal os negros já
estão quase brancos, estão saindo com loira, polaca, estão comendo em
restaurantes...". Leia abaixo texto de Jailton de Freitas Neves, coordenador
do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, publicado no Jornal Agora:
Na Sessão Plenária em que a
pauta discutida na Câmara de Vereadores do Rio Grande/RS era o Projeto de Lei
que dispõe sobre a reserva de 20% de vagas para autodeclarados negros e pardos
para o ingresso no serviço público municipal. A Casa Legislativa estava
amplamente ocupada por representantes de movimentos negros, coletivos, ONG's,
assim como cidadãs de diversos setores da sociedade riograndina, dentre as
manifestações dos parlamentares, causou repúdio a todos presentes a fala do
vereador Wilson B. Duarte da Silva (Kanelão) – PMDB.
O vereador Kanelão não se constrangeu em desqualificar a luta
do Povo Negro entoando um discurso desrespeitoso àqueles que lutam por
igualdade de oportunidades e contra toda forma de opressão: "Os negros
querem se favorecer, isso que é racismo, afinal os negros já estão quase
brancos, estão saindo com loira, polaca, estão comendo em restaurantes..."
Desprezando os índices estatísticos nacionais e a realidade
de nossa periferia, assegurou que o povo negro não necessita de políticas
públicas para inserção no mercado de trabalho, uma vez que já frequentam
restaurantes, galgam posições e até casam-se com brancas (os). Para o Vereador,
o alegado embranquecimento dos Negros da cidade do Rio Grande, respalda a
posição contrária às ações afirmativas. Não é de espantar a posição do vereador
Kanelão - como representante da burguesia - à defesa de seus interesses.
Discurso de teor racista, que seguido de vaias, causou indignação a todos.
Dados divulgados pelo próprio governo demonstram que a
mestiçagem racial não democratizou, de maneira alguma, as relações entre as
"raças". Isso simplesmente porque a riqueza do nosso País não foi
"miscigenada". Nos últimos dez anos dos governos do PT, os homicídios
praticados contra jovens brancos diminuíram 33%, enquanto entre os jovens
negros cresceu 23,4%. Os negros que representam 52% da população brasileira
aparecem como 67% dos moradores das favelas. O número de 41.127 negros mortos,
em 2012, e 14.928 brancos é um retrato cruel das diferenças raciais no Brasil e
apenas apontam o estado emocional subjacente que vive cada pessoa e cada família
negra brasileira.
Embora trabalhem tanto quanto os brancos, os negros recebem
salários muito menores. Conforme a Síntese de Indicadores Sociais 2012,
publicada pelo IBGE, enquanto um branco recebe em média 3,5 salários mínimos
mensais, uma simples mudança no tom da pele derruba esse rendimento para 2,2
salários no Estado, o que representa uma diferença de 59%.
Como a dominação de classe, combinada à opressão racial, se
manteve, o mito da democracia racial permanece até hoje como escudo ideológico
dessa dominação/opressão. O Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe repudia o
discurso e atitude do vereador Kanelão e se coloca como alternativa na luta
contra o racismo burguês e capitalista e na defesa dos trabalhadores (as)
negros(as) do Rio Grande. Esta luta transcende as questões raciais, pois mostra
ser uma luta de classe, que precisa ser combatida com todo vigor.
Fonte: Brasil 247.













