Quando a equipe nacional com Neymar e companhia entrar
em campo, às 17h00, para definir contra a Colômbia qual equipe irá à
semifinais, a Copa do Mundo já terá, fora das quatro linhas dos gramados, um
grande vencedor. É o Brasil, que realiza um Mundial com sucesso de público e
crítica. Enquanto os estádios, elogiados pela arquitetura, estiveram e
continuam lotados por caras pintadas de diferentes países, nas 12 cidades-sedes
o que se viu foram cenas de alegria e confraternização. Os elogios à
receptividade do público brasileiro e ao ambiente geral do país são feitos, em
profusão, tanto por jogadores famosos como por torcedores anônimos.
Ao que parece, apesar de desmentidos dos
jogadores, a Seleção entrará em campo sob o signo da tensão. É natural. Sem
nenhuma grande atuação até aqui, a equipe do técnico Luiz Felipe Scolari teve
uma passagem para as quartas de final dramática, contra o Chile, na qual o
choro dos jogadores despertou a comissão técnica para a situação de pressão em
que todos estão envolvidos.
Porém, poderia ser muito pior. A julgar pelas
previsões espalhadas antes da Copa por praticamente todos os órgãos de
comunicação da mídia tradicional, os estádios seriam cercados por
manifestantes, as cidades estariam em estado de alerta e tumultos, conflitos e
vandalismo ocorreriam de maneira inevitável. A imagem do Brasil sairia
praticamente destruída diante do mundo, uma vez que a Copa seria um momento em
que toda a insatisfação da sociedade brasileira seria posta para fora.
O que a sociedade está mostrando é algo bem
diferente. De saída, está claro que os brasileiros sabem separar os assuntos
político e sociais da sua histórica paixão pelo futebol e amor irrestrito pelo
Seleção. Ao contrário da mídia que jogou todos os elementos no mesmo caldeirão,
o povo os separou na vida real. Não está dito que, doravante, não ocorrerão
mais manifestações nem que cena de vandalismo, como as vistas em momentos
anteriores ao Mundial, serão extintas.
Na panela de pressão do Brasil real, esses
momentos podem, sim, sem dúvida, voltarem a acontecer. Mas o que ficou nítido é
que a cidadania mostrou ter maturidade e discernimento suficientes para
reconhecer o momento. A verdade é que o patriotismo aflorou acima das
contradições sociais, algo que a mídia não soube reconhecer que sempre existiu:
os brasileiros gostam, do fundo do coração, do seu país.
A imagem de uma sociedade aberta, diversa e
receptiva, em pleno curso de sua modernização, e, naturalmente, com diversos
problemas e soluções, é a que está sendo veiculada para o mundo a partir da
Copa do Mundo. A aposta interna, dos tradicionais formadores de opinião, era a
de que apenas o lado mais obscuro da sociedade ocupasse a cena principal
durante o Mundial. O que se vê, no entanto, é a prevalência da face feliz e
cortês da população. Com o Brasil vitorioso na organização do Mundial, e seja
qual for o resultado esportivo do duelo entre os fenômenos Neymar e James
Rodriguez, os derrotados são os que jogaram contra e perderam feio.
Fonte: Brasil 247.