O HINO
A hora do Hino
tem sido foda. Cresci nos anos 70, desfilando em uniforme de colégio, junto com
tanques de guerra e fuzis, todo santo dia 7 de setembro. E cresci numa casa de
oposição, de resistência democrática – uma casa de esquerda. Então qualquer
símbolo pátrio não remetia à pátria mas, sim, à ditadura. O governo militar
queria ser confundido com o país e nós, ainda que de modo avesso, meio que
tomávamos mesmo uma coisa pela outra. Cantar o Hino era capitular ao jugo dos
milicos. Tanto quanto hastear a bandeira ou simplesmente gostar do Brasil. A
minha geração só foi gostar de novo do verde amarelo, sem culpa, na Copa de 82.
Ali passamos a admitir com orgulho nossa brasilidade.
Mas nunca vi nem ouvi o hino ser
cantado do jeito como jogadores e torcedores estão fazendo agora. Milhares de
vozes à capela, urradas a plenos pulmões. Isso é um fato relevante e tem
implicações profundas. Mas fiquemos só no seu efeito mais epidérmico – o Hino
tem sido um momento arrepiante e um combustível para os jogadores. Até
estrangeiros tem tido goosebumps. Veja essa matéria da Business Insider. Nada
poderia estimular mais àqueles que estão prestes a entrar em campo. E esses
meninos estão querendo muito essa Copa. Isso, no esporte de alto nível, faz
toda a diferença – entre supercraques, ganha quem quiser mais, quem estiver
disposto a dar mais, quem estiver com a cabeça melhor.
Estou sentindo
um clima, nesse grupo, muito parecido com o de 1994. Esses garotos, apesar de
muito jovens – Neymar tem só 22 anos! – estão muito focados e maduros em
relação ao que querem. Eles já são ídolos, já são ricos, já jogam na Europa, já
estrelam comerciais, já são famosos no mundo todo. O que eles querem agora é
uma coisa só: ser campeões mundiais na Copa que estão jogando em casa, diante
das famílias e dos amigos que deixaram para trás. Isso fica muito claro na hora
do Hino: Julio Cesar chorando, Tiago Silva com os olhos marejados, desde o
vestiário, gritando com o time, Neymar e Marcelo num transe pessoal, David Luiz
com cara de gladiador, pronto para sair dali e dar a vida pela jaqueta amarela.
É assim que se ganha uma Copa.
Nem sombra
daqueles garotos propaganda de 1998, embevecidos com o fato de terem enricado e
colocado “um apartamento no pulso” – mesma geração que em 2006 terminaria mais preocupada
em arrumar o meião do que em marcar o adversário. Nem sombra daquele saco de
gatos de 1990, que ficaram discutindo o bicho e brigando entre si e com a
comissão técnica até Maradona e Caniggia porem fim à nossa miséria. Estou, de
verdade, levando muita fé.
O PÊNALTI
Ainda sobre ontem e sobre essa antidiscussão do
pênalti em Fred, que o árbitro japonês Yuichi Nishimura apontou. Muita gente
que nunca foi a um estádio, que jamais jogou uma pelada e que só assiste uma
partida inteira de futebol de quatro em quatro anos, quando é Copa do Mundo,
está opinando e fazendo daquele lance um ato de conspiração, um fio condutor
que une e explica toda a corrupção da Fifa e todas as questões morais
brasileiras. Peraí, gente. O Fred cavou um pênalti com muita competência.
Ponto. Não foi o primeiro, não será o último. Querem discutir a simulação no
futebol, vambora. É antijogo ou faz parte da própria beleza do jogo? Como
evitar injustiças sem perdermos a espontaneidade? Vamos debater. Mas sem essa
de inventar um complô, de tecer uma longa e aborrecida tese vira lata que
sempre termina com uma torta enfiada por nós mesmos em nossa cara.
Ou, mais absurdo ainda, de incriminar
o japa. Isso, de novo, é desconhecimento. Vivi três anos no Japão e afirmo que
isso é impensável. Uma autoridade japonesa sendo desonesta diante de 3 bilhões
de pessoas e envergonhando a si mesma, a sua família e ao seu país? É caso que
nem um haraquiri expurgaria. Então, caiamos na real: foi um lance corriqueiro,
centroavante safo, efetivamente tocado dentro da área, que se deixou tombar. Um
lance que Fred interpretou como um Laurence Olivier. Tivesse feito a mesma
coisa num momento Francisco Cuoco, teria tomado um amarelo. Simples assim. Ele
arriscou e se deu bem. Segue o baile.
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