Em análise
publicada após o balanço anual da Petrobras, o jornal espanhol El Pais diz que companhia vai reverter o
endividamento e que papeis vão valorizar: “somente o potencial de bilhões de
barris de petróleo nos campos do pré-sal saltam aos olhos até dos mais
desconfiados”. Leia:
O dilema de um futuro encantador, mas um presente turbulento
É praticamente unânime a avaliação de que a Petrobras é um
sucesso no longo prazo. O capital, porém, é impaciente
CARLA JIMÉNEZ
Ninguém duvida que o futuro da Petrobras é
brilhante e que ela está construindo com esmero as bases do seu futuro, investindo
em inteligência e inovação para cumprir seus objetivos. Se comparada à estatal
mexicana Pemex, por exemplo, que está no centro das atenções do mundo pelo seu
projeto de abertura, a brasileira está vinte anos à frente, segundo Cesar
Guzzetti, da Gaffney Cline. “Vai levar uns anos para que a Pemex veja os
resultados de sua abertura”, explica Guzzetti. “As melhores oportunidades ainda
não estão no México. O Brasil é mais concreto”, completa.
Somente o potencial de bilhões de barris de
petróleo nos campos do pré-sal saltam aos olhos até dos mais desconfiados.
Porém, a estatal brasileira enfrenta um dilema que deve mantê-la na fronteira
da eficiência e da desconfiança por algum tempo. Os especialistas no assunto
não têm dúvida sobre a viabilidade dos seus projetos. “Na área de engenharia
naval e oceânica, vemos um programa muito consistente para novas plataformas,
que é a grande infraestrutura para viabilizar o aumento substantivo da
produção”, diz Stephen Segen, Professor titular de estruturas oceânica da Instituto
Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Não se pode garantir o mesmo com as
outras empresas de petróleo”, completa ele, que vê uma avaliação
desproporcional sobre os rumos da companhia.
Segen reconhece que, ao mesmo tempo em que há
um empenho da petrolífera para construer as bases dessa produção, por outro, há
um esforço enorme para desconstruí-la do ponto de vista político. “A Petrobras
é vista como empresa associada ao Governo”, completa.
A perda de valor no mercado é terreno fértil
para o ataque de adversários. A mais recente polêmica se refere a uma denúncia
de uma empresa de aluguel de navios holandesa (SBM Offshore) de que
funcionários da empresa teriam recebido propina para fechar negócios.
O tema ganhou o Congresso brasileiro, com deputados,
inclusive da base aliada, pedindo para instalar uma Comissão Parlamentar de
Inquérito para apurar as informações. Disputas partidárias e suspeitas à parte,
o senso comum entre investidores é de que a empresa é interessante, mas não é
boa para o curto prazo. “Como investidor, eu só colocaria dinheiro na empresa
se a visse tomando decisões de desinvestimento, que garantisssem retorno no
curto e médio prazo”, diz Leonardo Maugeri, ex-presidente da petroleira
italiana Eni.
Para ele, há ativos que a empresa poderia se
desfazer tanto dentro como fora do Brasil.
Maugeri conta que o sentimento dos donos do
capital que poderiam negociar ações da Petrobras é sempre o mesmo. “Ela é muito
boa para o longo prazo, mas enfrenta tensões no curto prazo. Por isso ela
precisa de um comportamento mais agressivo”, afirma. Ele lembra, ainda, que o
preço do petróleo tende a cair no futuro, o que exige uma tomada de decisões
rápida.
Jean Paul Prates, da consultoria Expetro,
reconhece que as ações da Petrobras são indicadas para investidores mais
conservadores.
“Ele pode ficar meio ano esperando a
valorização”, diz Prates. O especialista acredita que a empresa, por exemplo,
será capaz de reduzir o endividamento este ano seguindo seu plano estratégico,
o que naturalmente vai garantir ganhos aos papeis do grupo.
Prates também acredita que há um exagero na leitura sobre a companhia. “As
pessoas falam mal, mas ninguém vaticina o seu fracasso. Só isso é motivo para acreditar”,
conclui.
Fonte: Brasil 247.